quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Já temos figo e moelas

Óculos com lentes cor-de-rosa, o fashion accessory de qualquer optimista digno do nome

Ontem à noite, no quarto de mamãe, mamãe já na caminha refastelada com um livro nas mãos (se eu fossa uma filha à altura saberia que livro anda a ler, talvez seja o Sidartha do Herman Hesse, já me falou dele algumas vezes). Estamos a conversar sobre o main event do dia. Lá aproveita para me dizer que gostou do post que escrevi (como gosta de todos) e que não percebe como é que eu tenho coragem de o publicar, de mostrar ao mundo a minha intimidade tão íntima (redundância minha). Respondo que o mundo a que ela se refere é muito pequenino, são poucos os que me lêem.
Pergunta-me se não tenho vergonha de que se saiba deste capítulo da minha história. Digo-lhe que, dos poucos que me lêem, são ainda menos os que sabem quem sou (para estes tenho um metro e setenta e cinco, sou loura, e se se cruzassem comigo na rua perguntar-me-iam se sou a irmã mais nova da Irina Shyak e como é possível ser ainda mais bonita).
E sossego-a dizendo ainda que posso retirar o texto do blog se me sentir desconfortável, que logo decido, aquilo de ter o fígado de fora está a toldar-me o julgamento (aliás viu-se).
Mas depois de uma noite mal dormida acordei para uma caixa de comentários que me fez pensar que fiz bem em escrevê-lo: acordei para abraços e beijinhos em jeito de palavras e alguns sorrisos, forma habitual de me despedir quando deixo comentários em blog alheio.
Acordei para mais um dia de escolhas e na manhã do qual novamente decidi ver o copo meio cheio. Talvez morar num sítio onde só chove meia dúzia de dias por ano e o céu é habitualmente de um azul inspirador facilite a escolha de deixar o sol brilhar e iluminar até os recônditos mais escuros da minha existência.
Nem de propósito, há dias contava-me este poço de sabedoria (e de mails manhosos) que é mamãe de ter recebido um forward com a história do Pepe, um senhor que todos os dias escolhia estar de bom humor, aprender com os desaires, e ver o lado positivo da vida. Tendo levado uns balázios e estando à espera de ser operado, respondeu à pergunta habitual das alergias sê-lo às balas e pediu com a força que pôde que o operassem como estando vivo ainda e não já morto. Este tipo de historietas é habitualmente acompanhado de paisagens, ora naturais, ora man made, onde invariavelmente há árvores solitárias, casas à beira de lagos, e uma qualquer viela de cidade europeia antiga e a do Pepe não desiludiu (mas quem raio se dedica a fazer destas coisas!?).
Eu há muito tempo que decidi ser uma Pepe em, para aqueles que não me conhecem, optimista e feliz versão irmã mais nova e mais bonita da Irina (para os que conhecem hey, é assim que eu me imagino todos os dias quando acordo e são os espelhos que estão mal calibrados). Apercebi-me que gosto mais de viver assim. Não sou menos cínica ou sarcástica bem no cá íntimo, mas não deixo que isso leve a melhor (só quando durmo pouco e estou afectada da hormona, aí o filtro vira fino e esburacado, coisa que até me dá algum gozo porque eu costumo ser uma paz d'alma e isso sempre traz algum elemento de espontaneidade e surpresa a uma existência mais pacífica e, porque não dizê-lo, algo monótona).
Este texto serve portanto de agradecimento pelas vossas palavras meigas e sábias. E para vos dizer que só pelo vosso feedback neste e noutros momentos mais conturbados, não esqueço jamais o quão mal me senti por ter batido na minha filha e no bem que me fez exorcizá-lo e receber palavras de bom exemplo -- ainda te estou a dever um mail, Helena!, vale a pena ter este blog. Perdoem-me pela pieguice, mas não resisto a dizer-vos que sou mais feliz por vos ter desse lado, ao meu lado ainda que ciberneticamente. Sou uma gaja de sorte, pá, a sério que sou (ainda por cima em versão mais nova e -- pasme-se!!! -- mais bonita da Irina!).
Um sorriso já com as peças todas encaixadas. Amanhã nem me vou lembrar que saíram do sítio!

5 comentários:

  1. Estimo muito que a figadeira já esteja de volta ao seu lugar natural.
    Só hoje li os teus posts e tenho uma perguntinha a fazer, não me leves a mal...

    Não terá a tua mãe ficado um pouco constrangida por teres exposto a intimidade que, no fundo, também é a dela?

    Beijinhos gordos para a bolacha mais gira da blogosfera!

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  2. Ó Bolachinha, não sabia que a Irina tinha mais uma irmã, para além de mim :D
    Olha que aqui a menina é muito refilona, muito mau feitio, desopila que se farta no blog, mas na verdade tenho pouco do que me queixar, tenho uma vida que tomara muitos, e todos os dias, a meio do refilanço habitual, dou graças por tudo, obrigo-me a rir, a sorrir, e olhar para este céu azul que é uma bênção.
    E tenho muito apreço por quem opta por sorrir, como tu. Que ainda tenho muito que aprender, que levas um avanço considerável em relação a mim ;)

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  3. DNC,
    Sabes que não me tinha ocorrido isso (ai que egocêntrica!). Fui perguntar, o que me valeu um "afinal não estás a trabalhar!!!!" e tudo.
    Mamãe disse-me que não, que não ficou, porque a sua história é conhecida e que todos que a conhecem a sabem. Retorqui que também a minha o é, o que a deixou pensativa. Acho que o que a perturba mesmo é o sentir que de algum modo me falhou (coisa de que discordo em absoluto!).
    Obrigada por me fazeres olhar para o resto dos planetas e não apenas para o sol no meu umbigo.
    Um sorriso muito grato e solarengo!

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  4. Miss Izzie,
    Sou igualita a ti, até no físico! Também agradeço ao universo a vida fabulosa que tenho. Sem querer atrair bicho mau, bate na madeira toc toc toc, tenho saúde, uma família linda, e não me falta dinheiro para os alfinetes. Tenho uma qualidade de vida que nunca sonhei, desde disponibilidade de tempo a alguma disponibilidade monetária que felizmente me fez deixar para trás dias em que sobrava mês ao ordenado (a minha adolescência foi tramadota em termos de auto-estima e financeiros). Mas hoje toda uma galáxia nova se abre e me recebe. Até esta brincadeira da blogosfera está a ser uma delícia.
    Um sorriso amigo e piegas (valha-me Santo Ambrósio)!

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  5. Não tens nada que agradecer. Quem está de fora tem sempre uma perspectiva diferente daquela que tem quem está a viver a situação.
    Ainda bem que não há constrangimentos pela parte da tua mãe.
    Beijocas

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