Enquanto o marido está a aguentar o calor do delta de Sacramento e, simpaticamente, pratica as suas tarefas de groomsman -- bolas, no post anterior escrevi que ele era best-man mas não é, é groomsman, que é uma espécie de dama-de-honor mas à gajo, portanto mais peluda mas igualmente absurda e mal vestida --, Maria aguenta o calor no quarto e aproveita para ler os 81 posts que estão a negrito no google reader e postar uns quantos pensandos. De porta do quarto escancarada, ventoinha aos pés da cama apontada na minha direcção, escrevo sentada na cama, recostada em duas almofadas, computador nas coxas (como se não estivesse já calor que chegasse!). Estão, diz o weather.com, 36ºC.
O hotel é estilo Art Déco, o que agora percebo quer dizer que não há elevadores. Construído em 1927, portanto no pico da Prohibition Era, que de 1920 a 1933 proibiu o fabrico, a venda, e o transporte de bebidas alcoólicas, o hotel foi oferecendo um conjunto vasto de serviços, desde o já esperado room and board até a um menos esperado, pelo menos por mim, que sou um bocado inocente (ou tansa), serviço de atendimento ao público com enfoque nas relações humanas (bordel). Este último, a par de um serviço de venda (ilegal) de bebidas alcoólicas, que aliás motivou a instalação de um alçapão secreto que escondia uma ligação directa até ao rio, deu ao hotel um certo misticismo e frisson, o que por sua vez levou à sua procura por parte de celebridades de todos os tipos, de presidentes a políticos, e de mafiosos a estrelas de cinema, por exemplo passaram por cá Clark Gable e Judy Garland. Diz que nos anos 80 "[t]he Hotel has (...) undergone a major renovation, maintaining the character of the original design while incorporating contemporary amenities, such as Jacuzzi tubs, with glorious river views. What has been achieved is an ambiance that is both unique and casually elegant." Ainda que elevadores nem vê-los (o que não me chateia, juro) e ar condicionado idem aspas (isto já me chateia um bocado porque está calor e o marido não dorme quando há muito calor e faz-me a vida num, hoje mais literal e esquentante do que gostaria, inferno).
Posso entretanto dizer-vos que da major remodeação não fizeram parte as janelas, pois que a da casa-de-banho, de madeira carcomida pelo sol e pela brisa do rio quando há, está carunchosa e, infelizmente para mim, sem vidros, que estão partidos e apanhados do lado de fora.
À péssima qualidade da janela da casa-de-banho juntam-se as do quarto, que são duas, uma de lado da cama e a outra mesmo atrás da cabeceira. Estas últimas, de alumínio ou outro qualquer material mais ou menos ferroso (que percebo eu destas coisas?), são uma anedota no que a janelas diz respeito. Bom, lá que abrem e fecham isso é verdade, lá que deslizam sobre uma calha, sim. E é isto o que tenho a dizer. O que realmente me importa e me está a moer o juízo é que as putas, duas das quais viradas para a air vent do hotel, não são solução para o barulho imenso que aqui se faz ouvir. Estou de phones canceladores de ruído nos ouvidos, aparelhómetro devidamente ligado, Amor Electro e Donna Maria aos berros no youtube, e mesmo assim ouço o cabrão do ruído.
Desculpem, amigos, eu tenho issues com barulho, e não consigo dormir em quartos barulhentos. Eu sou sempre a esquisita que, aquando do check-in, pede ao infeliz da recepção um quarto afastado do air vent, das ice machines, e das portas dos elevadores. E que, muitas vezes não satisfeita, desce à recepção e diz ser inadmissível aquele quarto.
Estou feita, não vou dormir duas noites...
Ah sim, estou cheia de saudades da minha filha, que entretanto hoje já foi à praia a São Francisco com a avó, já aprendeu a dizer "ocean", e até já foi dar de comer aos gatos da tia. Está cheia de sorte, a casa dos avós é tão sugadinha... E fresca, pá, fresca!
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