sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mudança de paradigma ou "eu também quero um ❤ blogosférico"


Nas minhas muitas incursões pela blogosfera que tanto podem demorar oito como oitenta minutos, é normal encontrar textos de meninas, senhoras, jovens ou nem por isso, que têm o melhor namorado, marido, companheiro, parceiro, amanteziú, enfim, o melhor seja o que for do mundo. Ah sim, porque tem de ser do mundo.
As ternuras são para todos os gostos: há ofertas de sapatos porque a moça disse gostar muito deles, há fins-de-semana em hotéis de charme, há jantares surpresa à luz das velas, há a observação de que aquele é o vestido usado no primeiro encontro/beijo/abraço/..., há a poesia deixada na almofada ao levantar, enfim, uma miríade de mimos cuja enumeração (mais) exaustiva nos deixaria ainda mais exaustos e quase diabéticos de tanto mel.
Ora há muitos anos, a nós meninas os contos de fadas falavam de príncipes que salvavam princesas das garras de madrastas ou irmãs enciumadas, falavam de caçadores corajosos que salvavam jovens encapuzadinhas de filiação política duvidosa das garras de lobos gulosos, falavam de princesas capazes de reconhecer um grão de ervilha debaixo de mil colchões para, no fim das contas, ir casar com o seu herói. Tenho p'ra mim que até a Caracolinhos Doirados, a tal que comeu a papa dos ursos, arranjou maneira de se casar com um príncipe, tão ou mais galhardo que os das outras misses.
Hoje o discurso é outro, e as mães e avós, ajudadas pelos pais e avôs, que a modernice entre outras coisas tratou de envolver mais o macho na educação/formação/estragação da prole, falam às meninas da importância da matemática e de cursos de engenharia, falam de independência, falam de viagens, falam que o mundo que as viu nascer não acaba quando muda a tabuleta da localidade, e que tabuletas há muitas, escritas em vários caracteres e em várias cores, há só que procurar. Às meninas já não se fala de príncipes senão para dizer que a gata borralheira tinha mais era de ter mandado as irmãs à fava, as gajas que limpassem por elas ou então contratassem um serviço de limpeza, que a lixívia faz mal aos pulmões e ainda por cima estraga as unhas.
Hoje o discurso é outro e a fonte também é outra. Vejamos... Deixados um bocado para trás os livros que contam histórias de amor (e quem ler a minha resposta a este repto, quando a houver, ficará a saber que eu nunca o fiz e me recuso terminantemente a fazê-lo), é na blogosfera que vou encontrando os meus novos heróis, os meus novos príncipes encantados, aqueles que oferecem jóias, sapatos, carteiras..., que preparam pequenos-almoços, almoços, brunches..., que à socapa organizam fins-de-semana, piqueniques, vacances,... Aqueles que são o "melhor namorado do mundo, o meu", o "melhor marido do mundo, o meu", o "melhor companheiro do mundo, o meu", "o melhor amigo do mundo, o meu", o "amanteziú mais competente na cama do mundo, o meu" e por aí fora.
Eu também quero um amor blogosférico. Onde me inscrevo?

7 comentários:

  1. olá, gostei mt deste teu texto.

    tb acho um pouco o mesmo. alg historias talvez sejam reais (mas taaaaanto meeeeel, please)
    e quando não existem aprimora-se uma bocadinho a historia, que é para parecer bonito.

    acho que o fim ultimo é sempre gabarem-se e tb causar uma certa inveja. é cm ter os ultimos sapatos, vernizes, roupa. se calhar todas fazemos mais ou menos mas há umas que é um exagero.

    enfim, bjs

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  2. Para mim um príncipe encantado é um homem que meta as meias usadas dentro do cesto da roupa suja em vez de as deixar no chão MESMO AO LADO DO CESTO! :s OMG, é assim tão difícil??????


    (bilhetinhos, brunches, quê?)

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  3. Eu também quero - ou melhor dizendo: queria, - porque, infelizmente, a Fáb do Regalado já fechou ((fazia peças em barro), e agora não tenho onde encomendar um "specimen" desses ...

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  4. Eeeehhhhhhhh, não sei. O meu não me oferece sapatos, nem roupas, nem jóias (brincos no Natal ou aniversário, ou um relógio, vá), nem me faz brunches nem marca fins de semana românticos. Mas cozinha bem, sabe trabalhar com a máquina da roupa (desde que lhe ditei uma cábula que está presa ao frigorífico), é asseadinho e faz-me rir. Faz-me rir todos os dias.

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  5. Aloucura,
    Eu diverti-me muito a escrever este texto, fico feliz que tenhas gostado.
    Não acho que quem escreve estes textos queira causar inveja nos demais. Mais, penso que no momento da escrita, no rescaldo da surpresa boa, a pessoa acredita até ao tutano no que escreve. O que me irrita mesmo é a parte o "melhor do mundo".
    E sim, qual de nós que resiste a ser gabarolas de vez em quando, hehehehe.

    Anouc,
    O meu maior problema são as migalhas. Ahhhhhhhhhhhhh! Custa assim tanto apanhar as migalhas do balcão depois de fazer as torradas? Ou de cima da mesa depois de comer? Tradução de "já arrumei a cozinha": já pus a louça na máquina. E a banca? E os balcões? E a estúpida da mesa, heim?
    Também estou contigo nisso das meias. Mas se fossem só as meias...

    Micas,
    Pode ser que na fábrica das faianças Bordallo Pinheiro se arranje qualquer coisinha, haja esperança!

    I.,
    Tu estima essa pérola! O Rui Veloso dizia que só se ama alguém que ouve a mesma canção. Eu discordo e acho que só se ama alguém que se ri connosco, e às vezes de nós mas mesmo assim connosco.
    O meu hôme só sabe cozinhar dois pratos, e ambos envolvem feijões, o que é uma desgraça. De resto, à bom americano, é fã das sopas enlatadas. Blherc! Nas datas especiais até é generoso, mas tem-lhe dado a preguiça e rendeu-se ao perguntar o que eu quero (fora as bolachas, que vêm sempre). Joias, nem vê-las, e ainda nem fui de lua-de-mel, imagina.
    Não fora o ser um bom companheiro já o tinha trocado por uma versão mais dada à mordomia e mais perfumada -- essa sim grande falha, a do não usar cheirinhos. Ao menos não cheira mal dos pés!

    Um sorriso às quatro!

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  6. "Eu também quero um amor blogosférico. Onde me inscrevo? "

    Na tua imaginação? :)

    Mas, atenção, há alguns blogs com esse tipo de posts, em que se fala das maravilhas (eu leio alguns, por gosto), e em que as autoras dizem com frequência que nem tudo é cor-de-rosa (sabiam que de todas as cores, cor-de-rosa é a única que mantém os hífens, depois do acordo ortográfico?), mas que optam por deixar a merdinha de fora? É natural, partilhar-se as coisas boas, e resguardar-se o que é menos bom :)

    Cabe-nos a nós, leitoras, lermos tudo, com parcimónia e uma pedra de sal :)

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  7. Jonas,
    Na minha imaginação? Estou perdida...
    Eu cá até gosto muito de ler posts que descrevem as doçuras nos amores e também penso que a roupa suja se lava em casa e depois se estende lavadinha na varanda -- lindo!, só me faz alguma comichão o epíteto "melhor do mundo". Fora isto... é só inveja da minha parte, naturalmente!
    Um sorriso!

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