Mão de mini-bolacha em mão de mãe bolacha |
Para aqueles que me lêem sem saber muito bem quem está deste lado, e sim, sobeja aqui a esperança de ser lida por mais do que um ou outro amigo que sabe a cor dos meus olhos, deixem-me dizer-vos um pouco mais sobre mim.
Neste momento estou de licença de maternidade. A minha filha tem dezoito meses e eu continuo de licença de maternidade. Não me lembro do nome, e sinto que devia, quando mais não seja por cortesia para com o Estado português. Não me lembro de como se chama, mas é uma licença que os funcionários da administração pública podem tirar, até dois anos, licença essa que não é paga, não conta para efeitos de reforma, e não tem quaisquer tipos de apoio - queria deixar isto aqui claro, não vão os menos informados achar que eu estou a viver à custa do Estado, e não é verdade. Eu gostava que fosse, não me interpretem mal, eu gostava mesmo que o Estado me pagasse para eu estar em casa, mas não é o caso.
Tampouco uma digressão sobre os privilégios de se ser funcionário público é o objectivo deste post. Até porque, se houver alguma cabecita por aí já a pensar "esses papa-jantares que são os funcionários públicos, não trabalham nada e só querem viver à nossa custa", e por "nossa" entenda-se à custa dos que pagam impostos, deixem-me só responder rapidinho que, número um, os funcionários públicos tiveram em Janeiro um corte no ordenado e uma palmadita nas costas em jeito de obrigadinha, porque o Estado não só esteve à vontade como até esteve "à vontadinha", e número dois, os funcionários públicos também pagam impostos.
Mas então dizia...
Eu sou uma stay at home mother. Por enquanto, até o meu departamento me chamar e, espero, receber de braços de abertos tão saudoso de mim quanto eu estou dele. E aí é que vão ser elas.
Se a profissional em mim quer dar o grito do Ipiranga e voltar a trabalhar, a sentar-se à secretária, a ter tempo de responder a emails e soar toda "professora", a mãe em mim sente já na ponta dos dedos os carinhos que não farei no cabelo da minha riqueza, os beijinhos que não lhe darei antes de fazer a sesta, as brincadeiras que não verei, as gargalhadas que não ouvirei mas de que saberei quando a for buscar à escola.
Eu gosto muito de estar em casa com a minha filha. Adoro poder respeitar as rotinas dela, levá-la ao ginásio para que socialize (outra promessa de post), ler-lhe os milhentos livros que temos em casa, em português e em inglês, ir passear... tudo isso eu adoro e não há dinheiro que pague assistir à viagem que percorre de lagartinha até bubuleta.
E aqui a outra em mim, insidiosa, vem ao de cima de fininho com o outro lado da culpa. Como tantos amigos fizeram aquando da tomada de decisão, a outra em mim censura-me. No meio de impropérios lembra-me que estudei anos e anos para agora estar em casa a limpar ranhos e cocós. A estudiosa em mim até já está aqui já aos pulos a lembrar-me da meia-dúzia de economismos que permeiam as minhas afirmações. São muitos, e deixo-vos aqui alguns.
Vejamos, por exemplo, o conceito de trade-off, que nos diz que para se ter uma coisa se tem de abdicar de outra. Em segundo, o aquele "não há dinheiro que pague" está a dar-me uma coceira: então não há dinheiro que pague!? E o dinheiro que eu decidi deixar o patrão não me pagar, chama-se o quê? E vamos pensar para além do ordenado, vamos pensar nas deduções que não estou a fazer para a minha reforma, por exemplo. E vamos, já agora, pensar no tiro no pé que estou a dar profissionalmente. Num meio onde cada pessoa vale pelo que produz em termos de contribuição para o desenvolvimento científico na área, sob a forma de artigos, por exemplo, suspeito que a minha não produção, mesmo que justificada por não estar "ao serviço", não seja vista com bons olhos.
De modo resumido, portanto, qual é o custo de oportunidade de estar em casa versus ter ido trabalhar?
Confortavelmente instalada na decisão de ter ficado em casa pergunto-me, exactamente assim: pior, qual é o custo de oportunidade de ir trabalhar e deixar a minha filha entregue aos cuidados de outrem?
Espero que a solução para o meu problema de optimização intertemporal seja a que escolhi.
Cheira-me que voltarei a este assunto mais vezes.
Ah! Como eu te percebo...Neste momento, eu não abdico de estar com o príncipe e a mini-girl icoare, para fazer qualquer coisa em termos profissionais. Se os meus colegas não entendem isso, paciência. Eu sou feliz assim!
ResponderEliminarRapariga,
ResponderEliminarA culpa vai perseguir-nos sempre, mas há que dosear as coisas. Eu não consigo imaginar escrever a minha dissertação já com filhos, mas tu tens de o fazer. E tens de te dedicar, que em cada página há tanto ou mais de transpiração como de inspiração. Às vezes, muitas vezes, é preciso fazer sacrifícios... é mesmo assim. Se fosse fácil todos eram doutorados...
Um sorriso e um xiiiiiiiiiiiiiiii!
Drama de mãe profissional. É mesmo um grande drama, Maria Bê. Por isso aproveita bem estes tempos e continua a mandar os vídeos (um dos últimos, como faz o cão, etc... que está melhor que bem) e as fotos (p.e., hoje acordei assim), para nós (que estamos longe e que gostamos muito da bolachinha) podermos acompanhar o seu crescimento. São ternuras indizíveis que se instalam no coração.
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