segunda-feira, 21 de março de 2011

Chiu!

Estou a ler a Note on policy guidelines and measures the Portuguese Government will adopt to address main economic challenges, o documento que o governo português apresentou em Bruxelas e que contém uma lista de medidas que vão ser implementadas com vista a, como consta da introdução:
"In the light of the challenges currently faced by the Portuguese economy, namely
related to the need to consolidate the public finances, to foster economic growth and
correct macroeconomic imbalances and to stabilize and strengthen the financial sector
and to improve the financing conditions in the Portuguese economy, the Government is
fully committed not only to the implementation of the measures already decided but
also to take the additional measures outlined in this note and to pursue the structural
reform agenda."
Em primeiro lugar, não consigo evitar dizer-vos que esta merda está tão mal escrita, mas tão mal escrita, que até tenho vergonha que isto seja levado a Bruxelas -- diz o marido, a quem eu li este excerto, que o documento foi escrito por advogados. Resta-me esperar que quem o vai ler tenha qualificações idênticas. Se foram economistas, então espero que saibam melhor economia do que a sabem verbalizar em inglês.
Infelizmente, o conteúdo está igualmente merdoso -- ia escrever escatológico para soar mais erudito, mas acho que o vernáculo cai melhor.
Eu entendo que isto são guidelines, linhas orientadoras de política, e não uma descrição exaustiva do que vai ser feito. Mas não consigo evitar a sensação incómoda que me estão a vender a banha da cobra. Vamos fazer e acontecer. Corta aqui, corta ali, corta acoli. Muito corte se avizinha. Corta, diminui, reduz. Poupa. Flexibiliza. Despede. Desnuda. O povo.
Eu juro que me apetece emigrar. Meter o rabo entre as pernas e fugir do problema. IVA a 23%? Perdão, 6% para os golfistas.
Ainda a propósito do IVA, estava aqui à procura no site da DGCI do IVA sobre as bolachas. Ainda não o encontrei, todavia aprendi que as visitas a um navio histórico estão isentas e que as bebidas de aloé vera são tributadas à taxa de 5%. Estou bem mais descansada. Continuo sem encontrar o IVA das bolachas, o que provavelmente é incompetência minha.
Uma sugestãozinha aqui do je para o governo... e se não implementássemos o acordo ortográfico? Penso, por exemplo, nas atualizações de software desnecessárias nos organismos públicos, no evitar de reescrever os códigos jurídicos para refletir o novo português. Ah, e en route vamos também poupar uns euros às famílias que assim não têm de comprar novos manuais escolares. Ou comprar novas edições dos livros do Plano Nacional de Leitura (o que, cá entre nós, até é capaz de não ser mau, porque eu já peguei em livros do plano e apeteceu-me atirar com eles à cabeça da menina da caixa registadora da livraria -- malta, era a cabeça assim por dizer mais à mão! -- porque é cada pontapé na língua que, olha filho, mais vale ser brasileira. Ou inculta!).
A minha amiga costuma dizer-me que Portugal está a saque. Pois se ao menos quem o saca o levasse a bom porto...
Acho que vou dormir angustiada.

Nota: o Económico tem aqui um resuminho do PEC IV.
Nota muito grande: desculpem lá começar assim a semana...

1 comentário:

  1. Ora, ora, ora, não te apoquentes Maria Bê. As bolachinhas e outras coisas tais lá terão os seus 23% de Iva e entrarão cada vez menos nas casitas dos portuguesitos, coitaditos, mas entretanto teremos o festival da eurovisão, "Os homens da luta" espalharão a sua mensagem e todos ficaremos bem.

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