quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Eu hoje mereço uma daquelas bolachas-bolo enormes porque não espanquei a mini bolacha

O dia acordou demasiado cedo, como aliás acorda todos os dias. Raça de miúdos, eu bem que finjo ignorá-los mas não se vislumbra neles qualquer nesga de compreensão, levanta-te mamã, mamããããããããããããã grita a miúda, mã-mã-mã-mã vai gemendo o miúdo, saltitando a escala de decibel em decibel como se as paredes não fossem feitas de papel (não brinco, as casas são de palitos e papel, pouco mais) e eu não o ouvisse.

O dia acordou cedo e doido, a pequena quer calçar as meias com as flores até aos joelhos mas não quer a saia nem a t-shirt que ficam bem, que fazem um conjunto agradável aos olhos desta mãe ainda presa a costumes que não são os desta terra que a acolhe. Filha, queres as meias e a saia ou outra roupa sem as meias. Que estupidez, porque não há-de levar as meias? Eu venho para baixo arranjar o leite do miúdo e deixo-a a chorar lá em cima. Ouço gavetas a abrir e a bater, está feita designer. Valha-me Santo Ambrósio! Desce, de t-shirt laranja e leggings cor-de-rosa arregaçadas até às coxas -- afinal o objectivo é mostrar as meias, têm flores e são giras que farta. Explico que não pode ir à rua assim e supreendentemente o Monsieur, que não é nada dado a estas coisas, concorda, ela parece um palhaço e contra looks não há argumentos.

Passado um bom bocado aceito que leve uns calções que também ficam bem, mas com a t-shirt que eu defini. Ela concorda. Por um segundo. Nova birra. Que me parece a vigésima sétima do dia mas talvez seja apenas a sexta. Apenas, ha haha! Número de sapatadas so far, zero. Depois não quer calçar-se, já tirou os totós que lhe fiz antes de ir lavar os dentes... Santa Rita, ajuda-me! Penteio-a e juro a mim própria que se deitará mais cedo...

À tarde vou buscá-la, birra no carro. Já em casa, estou no Skype com mamãe, nova birra. Cantinho (time-out), quer abraços e beijos e jura que não baterá outra vez no irmão (até à próxima vez). Birras, birras, birras, já está no banho e faz outra birra. Santa Riiiiiiiiiiitaaaaaaaaaaa!!!!!!!!! Ao jantar, quase tem uma síncope quando corto o esparguete, e pega no prato e, a meio caminho entre o balcão e eu, vira-o e deixa-o cair. Eu limpei hoje o chão e o esparguete é à bolonhesa, tem carne com molho de tomate! Nããããããããããããããããooooooooooooooooooooooooooooo! Cacos, esparguete, molho no meu chão. Miúda, time-out, cantinho. Birra. Já tinha comido meia sopa. Decidimos em conjunto que vai para a cama assim. Birra.

Subimos as escadas, ela desce, e marido ajuda a levá-la para cima. Fecho-nos no quarto. Ela grita, quer o pai, quer abrir a porta, quer o pai, quer a luz ligada, quer o pai... quer tudo menos eu ali. Eu aguento estoicamente. Pego nela, dezassete quilos de gente, e sento-me na cadeira de baloiço. Ela esperneia, eu penso que ela parece um polvo, tem demasiados braços e demasiadas pernas, debate-se e eu aperto-a contra mim enquanto penso que eu não estou ali. Respiro fundo e penso em cantar. Tento lembrar-me de uma música que seja apropriada mas só me rio porque não há nada de jeito. Marisa Monte ou Muse, "we will be victorious" e rio-me porque o biscuit e eu dançámos essa música de manhã. Ela continua a debater-se até que vai afrouxando na força. Eu também no abraço, falo-lhe meigamente e começo a contar a história da princesa e da ervilha, que ela adora. Chora baixinho e balbucia que está triste, mal a percebo.

Demora pouco até que ponho na cama, sempre a falar-lhe docemente e ela sempre a gemer. Faço-lhe festinhas na cara, chamo-a de meu amor pequenino, minha bolachinha, minha doçura, minha ternura. Diz-me que vai chorar muito assim que me for embora, eu digo-lhe que sim, que abrace o bunny e chore muito e vou repetindo minha bolachinha, minha doçura, minha ternura, meu amor pequenino. Ela adormece e eu saio do quarto pé ante pé, sem fazer barulho, não percebendo bem como é que a minha pequenina de cabelo a cheirar a Mustela e o gremlin com quem me vi a braços são uma e a mesma criatura. E nem um estalo, nem um beliscão, nada. A sério, eu mereço uma medalha.

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