quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Eu lembro-me de cenas

Suponho que passemos uma vida a tentar fazer as pazes com os nossos defeitos. Alguns aceitamo-los, quiçá pondo um positive spin naquilo que à primeira, segunda, ..., décima oitava vistas serão falhas, até os chamamos carinhosamente de "idiossincrasias". Outros tentamos desesperadamente livrarmo-nos deles, vade retro satana. Os inícios, sejam de milénio, século, década, ano, mês, ou semana (qual é a dieta bem sucedida que não começa à Segunda-feira? -- eu disse bem sucedida!), são particularmente propícios à listagem de particularidades, e eu rendo-me às massas. Parece que gosto de sentir que I belong.

Bom, à medida que os anos passam, vou-me dando conta que algumas das minhas pseudo-falhas não serão necessariamente defeitos mas sim oportunidades para melhorar. Hoje, assim de repente, ocorrem-me duas OpM que me chateiam a molécula e que eu vou tentar esculpir.

Uma das coisas que me aborrece imensamente (antes fosse só um bocadinho) é que eu importo-me, eu verdadeira e inexoravelmente importo-me, I care. Eu importo-me com as pessoas, eu olho-as nos olhos e vejo-as, e ouço-as, e sinto-as. Não é raro "ter impressões" sobre as gentes com quem me cruzo e depois ter razão quanto ao feeling que tive, tipo murro no estômago em virtual (ai de quem me esmurrar, no estômago ou noutro sítio menos a jeito, que marido é cinturão negro em Tae-Kwan-Do e protege sua damsel in distress). Eu importo-me se estão bem ou mal, o que até nem é coisa feia ou inútil, ainda que dê um trabalhão no último caso, e importo-me com o que pensam de mim. Ó cum caraças, aos quase quarenta anos seria de esperar que eu já não me importasse tanto com isto. Ocorre-me frequentemente a imagem de um cão saltitante quando aparece o dono em jeito de "pet me, pet me, love me, pet me". Num pode ser. Tenho pouco talento para canídeo e nem a prática de latidos e uivos que faço com a minha filha (como faz o cão, como faz o lobo, como faz o dinossauro -- alguém sabe?, até ajudava) produz resultados.

Outra das coisas que me comicha na minha personalidade é que eu sou uma gaja com memória dada à coisa inútil. Eu lembro-me pormenores das pessoas que não lembram ao diabo. Não, não me lembro de números de telefone e às vezes esqueço datas de aniversário (é raro, mas acontece, ou então lembro-me nos dez dias que antecederam o dia e depois passa-me no próprio, uma tragédia!), mas lembro-me de cenas, pá. Aliado a que me importo isto é do catano, dá uma canseira danada lembrar-me que alguém não pode comer tomates, outro é alérgico a nuts, e ainda outro tem uma trench Burberry (isso sim, é estilo).

Quando estas duas características se juntam numa mesma personalidade, como é o caso, é uma chatice. Se à partida não é mau que me lembre de cenas (à chegada é porque me gasta espaço de disco), tem a indiscutível consequência de eu habitualmente me desiludir porque quase ninguém cares as much ou pelo menos não dá sinais disso. Esta é, aliás, uma das razões pelas quais odeio receber presentes. Não, uma luva de cozinha NÃO é um bom presente para mim, humph! Já bolachas...

O puto já acordou e eu tenho de ir. Se tivestes alguma expectativa de profundidade quanto ao texto, e não que quaise acabasse com um apontamento absolutamente idiota, por educação lamentamos mas, realmente, não nos importamos. Pelo menos por enquanto. Não tão a despropósito como possa parecer: a valise que me faz salivar é a Neverfull GM. Quando eu realmente for uma senhora virá a gabardina.

5 comentários:

  1. Eu acho que sou um 'cadinho como tu ;-)

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  2. Eu cá salivo mesmo a sério pela gabardina, e a seguir podia vir uma LV da colecção Sofia Coppola. Tenho gostos simples, é pena é não ter carteira a combinar ;)

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