terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Menina simpática e normalmente bem aparafusada em precisão de psicoterapia ou qualquer coisa com bolhinhas

(gosto muito dos títulos da Rita Maria e pensei que hoje merecia tentar sem ser desancada daqui deste jardim -- ia escrever do mato, de onde acabei de sorrir e desafligir este meu peito, mas lembrei-me a tempo).
Foi uma coincidência o dia ter entrado por ali, normalmente nem me lembro destas coisas. No blog onde se procede à sacralização do descanso, à beatificação do ócio, e à santificação do fazer nenhum hoje, pela primeira vez, falei de ter um pai imbecil. Gosto de pensar que nem é má pessoa, mas é um imbecil, e está tudo dito.
Depois de meses sem dizer água vai, ligou-me hoje. Grandes conversas. Espírito zen, está bem com a vida, o Portugal que não via há mais de vinte de anos e reencontrou há dias diz não estar em crise, há muitos carrões nas ruas.
Entre queixas da senhora que ajuda a minha avó e conversas ocas diz-me que todos o receberam bem, que tem umas primas fantásticas (que o estão a tratar, imagino pelas almas generosas que são, nas palminhas e com uma boa vontade infinda). Tendo passado a perna ao próprio irmão, que não conseguiu abraçar antes deste ter ido embora, diz não dever nada a ninguém. Pateta que é, vive num mundo feliz.
Ouvi tanta baboseira junta, tanta estupidez que sinto que tenho o fígado de fora. A minha querida doutora do mato, que vê mais crianças do que malta espigadota, ou mesmo a outra querida sem teias de aranha talvez me digam que é impossível estar para aqui a escrever tão lampeira com uma parte do tronco assim ao ar, mas eu juro-vos que há conversas capazes de nos deixar com as vísceras de fora. Talvez não seja exactamente o fígado, não sei. Pode ser um rim, o baço, ou até mesmo a vesícula, sei que se pode viver bem sem ela, há é que ter atenção às gorduras. Facto é que estou assim sem norte, entranhas ao relento e a noite avizinha-se fria.
Perdoai-me este desabafo, amigos, normalmente sou mais comedida.
Sei também e asseguro-vos, se estiverdes já um bocadito preocupados com a sanidade mental desta que vos (me?) escreve, que amanhã ou depois já terá passado e tudo o que é órgão mais ou menos competente terá voltado ao seu lugar de origem e esquecido a aventura. Sou uma palerma porque os últimos vinte e seis anos me ensinaram algumas lições (escrevi cópias infindas em cadernos de duas linhas com caligrafia caprichada) e eu teimo em esquecê-las. Eterna optimista e convicta de que as pessoas mudam -- sou a primeira a dizer que ninguém muda ninguém, e pelos vistos nem a vida -- caio sempre na esparrela e depois arrependo-me.
O que vale é que também sei que amanhã -- optimista! -- ou pouco depois me terei esquecido de tudo. Até à próxima vez, naturalmente. E depois lá virá o aconchego da memória dedicada a outras causas e um esquecimento benevolente.
Com mil perdões por ter gasto o vosso tempo, espero contar-vos mais tontearias deste deserto amanhã. Hoje vi mais uma matrícula gira que fotografei para cá vos vir mostrar.

7 comentários:

  1. O eterno optimismo, o acreditar que toda a gente pode mudar, é aquilo que eu descobri ontem que comecei a perder. Invejo-te, acho que é melhor ser-se assim do que começar a sentir o cinismo a entranhar-se nos ossos.
    O fígado voltará ao lugar e não esquecerás as lições. Porque acho que esse é um esquecer voluntário, uma fé nas pessoas. Isso faz de ti a pessoa que és.

    Beijo desempoeirado *

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  2. Que dizer? Não escolhemos a família, sai-nos na rifa, e pronto. Não creio que as pessoas mudem, mas vão mudando: atenuam-se, as mais das vezes. É aceitar as coisas como são, e que nos é muito difícil mudá-las, e andando. Sorridente :)

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  3. Uma das coisas boas da vida é precisamente as pessoas poderem mudar, se quiserem. Os outros podem passar de pior a melhor pessoas, e a maneira como nos relacionamos com eles e como encaramos o que eles fazem no mundo, muda-nos a nós. Para melhor ou para pior.

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  4. Um beijo-de-mulata com cheiro a chuva de verão!

    (Quanto àquela coisa de as pessoas mudarem ou não, acho que a verdadeira questão não é se as pessoas mudam, mas se deixam de nos magoar. Ou talvez ainda, se nós continuamos a pôr-nos a jeito para que elas nos magoem. E geralmente isso só acontece em uma de duas situações: ou quando o outro leva um abanão fortíssimo ou quando deixa de ser importantes para nós.

    Por isso, mais vale ter alguém por perto que nos ampare as quedas, que nos ame e queira o melhor para nós. Tudo o resto são pontos para o karma. Ou metros quadrados de céu. Ou outra coisa qualquer que não nos faça perder a esperança...)

    Maria, que ninguém te queime esse sorriso!

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  5. maria, espero que tenha passado... são assim, essas feridas que temos, e que volta e meia teimam em abrir! bjs e bom ano!

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  6. Bee,
    Muito melhor, obrigada. É, esta é uma ferida no peito e uma pedra no sapato que eu teimo em não deitar fora, sinal inequívoco de não sou lá muito esperta (estava a tentar enganar quem!?).
    Um sorriso às risquinhas pretas e amarelas!

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