A explicação do título,"Dados do estudo "Integridade Académica em Portugal"" já me diz tudo e suponho que a versão online ou no jornal impresso não vá mais longe. Alguém estudou, alguém inquiriu exaustivamente os alunos e mais de metade destes admitiu já ter praticado um acto de fraude académica:
Há um conjunto de artigos interessantíssimo que analisa (e aqui peço desculpa se não for exactamente assim, está a falhar-me um pouco a memória) a propensão para a marginalidade e o grau de educação do executante. Controlando para várias variáveis, uma conclusão do estudo é que quem mais pratica o crime é quem tem menos a perder. Observação extraordinariamente apelativa, intuitiva, lógica, e o que mais: a pessoa capaz do maior acto criminoso é aquela que não tem nada a perder. Faz sentido, e ainda por cima é óbvio.
Ora no caso dos alunos, eles têm muito pouco a perder ao praticarem qualquer tipo de acto de fraude académica. Normalmente levam uma sapatada verbal na mãozinha, uma descompostura, e um "vá lá para casa trabalhar nisso e volte daqui a dois dias".
O que é preciso é responsabilizar os alunos e dizer-lhes que isso não está bem, que é desonesto, e que actos assim (há uns piores que os outros, vá!, pessoalmente vejo um copianço trazido de casa como uma coisa bem pior do que um "bolas, dá-me a resposta à pergunta 6, talvez me incomode o planeamento versus o aperto do momento). É preciso mostrar e fazer sentir no couro que quem se propõe à desonestidade, em alguns casos flagrantemente continuada, tem de sofrer as consequências, nomeadamente um apontamento no seu certificado de habilitações, ou no limite a expulsão.
Nas minhas aulas, logo no primeiro dia e ao longo do ano (e com mais veemência durante os testes), aviso os alunos: actos de fraude académica serão punidos com a imediata reprovação à disciplina. Alguns colegas acham que sou má, "ai és tão má" tipicamente acompanhada por um sorriso palerma. Não me parece mal, afinal o regulamento da universidade diz caber em primeiro lugar ao professor a resolução da questão (regulamento esse que remete para um código de conduta académica inexistente). E também acho que o meu papel enquanto formadora é o de educar para a cidadania (ou que quer que esta coisa signifique) e não me demitir deste papel só porque "já estamos na universidade". Chegam-nos às mãos ainda meninos, o que são 18 anitos hoje em dia? Mas são meninos engenhosos, ah se são, e sabedores, e manipuladores. E, infelizmente, ao que parece, com tendência para a fraude.
"De acordo com o estudo Integridade Académica em Portugal, a prática mais comum entre os universitários é a "reciclagem" de um ensaio ou trabalho feito anteriormente para outra disciplina e entregue como se de material original se tratasse. Há 45,6% que admitem já ter usado esta estratégia, um pouco mais do que aqueles que submeteram trabalhos omitindo referências bibliográficas (42,1%). Entre as práticas mais comuns encontram-se ainda a submissão de artigos com citações que não surgem discriminadas na bibliografia ou a citação inadequada de fontes bibliográficas."E por uma mera análise estatística eu suponho que se fique o artigo. Porque, infelizmente, eu não conheço nenhum código (universitário) académico no qual estejam clarificadas as punições a atribuir consante o erro. Plagiou, esqueceu uma fonte, copiou num exame usando o "espírito santo de orelha" ou trazendo uma cábula, vulgo copianço, de casa, tudo isto são crimes diferentes e, penso eu, puníveis de forma diferente.
Há um conjunto de artigos interessantíssimo que analisa (e aqui peço desculpa se não for exactamente assim, está a falhar-me um pouco a memória) a propensão para a marginalidade e o grau de educação do executante. Controlando para várias variáveis, uma conclusão do estudo é que quem mais pratica o crime é quem tem menos a perder. Observação extraordinariamente apelativa, intuitiva, lógica, e o que mais: a pessoa capaz do maior acto criminoso é aquela que não tem nada a perder. Faz sentido, e ainda por cima é óbvio.
Ora no caso dos alunos, eles têm muito pouco a perder ao praticarem qualquer tipo de acto de fraude académica. Normalmente levam uma sapatada verbal na mãozinha, uma descompostura, e um "vá lá para casa trabalhar nisso e volte daqui a dois dias".
O que é preciso é responsabilizar os alunos e dizer-lhes que isso não está bem, que é desonesto, e que actos assim (há uns piores que os outros, vá!, pessoalmente vejo um copianço trazido de casa como uma coisa bem pior do que um "bolas, dá-me a resposta à pergunta 6, talvez me incomode o planeamento versus o aperto do momento). É preciso mostrar e fazer sentir no couro que quem se propõe à desonestidade, em alguns casos flagrantemente continuada, tem de sofrer as consequências, nomeadamente um apontamento no seu certificado de habilitações, ou no limite a expulsão.
Nas minhas aulas, logo no primeiro dia e ao longo do ano (e com mais veemência durante os testes), aviso os alunos: actos de fraude académica serão punidos com a imediata reprovação à disciplina. Alguns colegas acham que sou má, "ai és tão má" tipicamente acompanhada por um sorriso palerma. Não me parece mal, afinal o regulamento da universidade diz caber em primeiro lugar ao professor a resolução da questão (regulamento esse que remete para um código de conduta académica inexistente). E também acho que o meu papel enquanto formadora é o de educar para a cidadania (ou que quer que esta coisa signifique) e não me demitir deste papel só porque "já estamos na universidade". Chegam-nos às mãos ainda meninos, o que são 18 anitos hoje em dia? Mas são meninos engenhosos, ah se são, e sabedores, e manipuladores. E, infelizmente, ao que parece, com tendência para a fraude.
Concordo em absoluto contigo.
ResponderEliminarSe há coisa que nunca fiz foi copiar, plagiar, cabular, etc. e pretendo educar os meus filhos para que também não o façam. É uma questão de cidadania, como dizes, de respeito pelos outros e, principalmente, por nós próprios.
Não sei como será por aí, mas posso dizer-te como é actualmente por aqui,a minha meia laranja é professora universitária e o que conta é de bradar aso céus... o copianço está instalado, e a falta de alunos de algumas universidades elevou o facilitismo a níveis que roçam o incrível.
ResponderEliminarJá lhe aconteceu encontrar o mesmo trabalho, que por sinal já tinha visto no ano anterior, apresentado por 3 grupos diferentes ... sendo que em dois deles até os erros ortográficos eram os mesmos... por incrível que pareça o responsável da cadeira correu todo o mundo a 10... mas aprovaram todos.... é assim que vão as coisas.
Não vou dar uma de virgem Maria, eu já fiz dois cursos universitários, alguma vez copiei nos exames em ambos, mas orgulho-me de sempre ter feito os meus trabalhos...
Jorge
Olá Jorge,
ResponderEliminarEu partilho a dor da tua meia laranja, também sou professora em Portugla, e para lá (aí) volto em Janeiro, mesmo a tempo de começar o segundo semestre em beleza. Não me aconteceu (ainda) encontrar trabalhos iguais, mas já me aconteceu encontrar parágrafos inteirinhos tirados da net (estavam demasiado bem escritos, foi esse o flagrante -- doido, não!?).
Irrita-me o plágio mas também me irrita o copianço de cábula. Uma perguntita aqui ou ali nem por isso, acho que me incomoda mesmo a intenção, o planeamento envolvido, que implicam que houve tempo para mudar de ideias e, quiçá, estudar.
Eu nunca fui uma santinha, mas talvez o código americano, onde por exemplo copiar dá direito a um pontapé no rabo e um "better luck next time", me tenha mudado um bocadinho. Talvez deva escrever que já me americanizei mais um bocado.
Um sorriso único e sem plágio!
Dorushka,
ResponderEliminarSabes que vejo o copianço como um atestado de estupidez ao professor, e isso mexe comigo, que nunca gostei que me chamassem estúpida ou imbecil, coisa que foi acontecendo ao longo do meu percurso académico (ah, a maravilha de educadores que são/foram alguns dos meus professores...).
Também há estudos que demonstram que verificam uma correlação positiva entre o copiar (ou praticar actos de fraude académica) e a tendência para a vilania ou criminalidade, pelo que há que os educar mesmo!
Um sorriso hoje todo maternal à custa do teu mais velho!