Há precisamente seis meses, estava eu no correio, naquele que fica mesmo ao fundo da Desert Foothills e, estando uma fila medonha eu a precisar de ocupar os minutos, de repente, vinda nem sei de onde, assolou-me a questão que também pelo mundo vai fazendo toda a diferença sempre que tal momento chega, "e porque não?". E foi ali mesmo, naquele correio que fica mesmo ao fundo da Desert Foothills, que eu abri o blogspot e criei um blog. Não este, exactamente, mas o seu projecto.
Tudo me tinha feito desistir da ideia até então, das razões mais importantes às menos. A primeira, fulcral, o receio de não ter nada interessante para dizer. Ou que não interessasse fosse a quem fosse, assim sim, chamemos as coisas pelos substantivos adequados. Porque, como já por cá escrevi um dia, tudo o que eu digo interessa, quanto mais não seja a mim. Mas, como também mais recentemente escrevi, escrevemos um blog para partilhar com os outros, e se o que nos vai na alma e na ponta dos dedos não interessa a mais ninguém, então que dizer do interesse do próprio? -- fica aqui ressalvado o reconhecimento de que talvez nesta questão não tenha exactamente o rabo a ver com o short, tentativa de dar alguma finesse à expressão popular segundo a qual o cu e as calças podem ou não ter a ver um com o outro (além do que no meu blog não se escreve a palavra "cu").
A segunda, não menos importante, o eu do blog. É que, por muita graça que ache a alguns alter egos exageradamente presunçosos que vou lendo, em pouco tempo me cansam, e eu acabo sempre por me refugiar naqueles blogs "com gente dentro", gente que tem gostos e desgostos, risos e lágrimas, excesso ou falta de peso.
A terceira, a quantidade certa de mim. Ligada inextrincavelmente à questão anterior, a decisão sobre o quanto de mim expor era importante. Querendo algum anonimato que me permitisse a independência, ao mesmo tempo sentia necessidade de mostrar a quem me lesse que havia alguém atrás do écran. Ao fim de seis meses de escrita quase ininterrupta (durante os cinco primeiros meses foi-o, juro) ainda me debato com esta questão.
Mais ou menos resolvidos estes considerandos, propus-me à tarefa em mãos. Um nome, um nome, o meu reino por um nome. Um nome que fosse "eu" e ao mesmo tempo não estúpido de todo (é que um e outro andam, feliz ou infelizmente e algo amiúde, de mãos dadas). De que é que eu gosto mesmo e sem o qual não passo? A resposta, tão simples, pois se o José Severino era mais bolos, eu sem dúvida é mais bolachas (surpreendeu-me que não estivesse já ocupado o domínio). E quem escreve que é mais bolachas? Uma Maria como eu e como a bolacha que fez e faz as minhas delícias com qualquer acompanhamento ou sem nenhum. Uma Maria Bolacha, nome entretanto já tomado por uma jovem com melhor sentido de oportunidade e que assim fez surgir a Maria Bê, com "e" e acento circunflexo, bê de bolacha, naturalmente.
Perseguindo-me ainda a dúvida sobre o porquê de eu ter dado o passo de mera leitora a redactora, creio saber no meu íntimo que vejo no meu blog uma companhia, umas vezes o Grilo Falante que me escuta sem tecer comentários, outras vezes pessoas com nomes e perfis que conversam comigo, ora em directo ora em diferido.
E que (tão mais) felizes têm sido estes seis meses.
Obrigada.
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