terça-feira, 21 de junho de 2011

Olha o passarinho!

[Ou como transformar a escolha de títulos des posts que não têm nada a ver com o texto numa arte]

Se eu não vou até à Ucrânia, a Ucrânia vem até mim. Ou mais ou menos, pois que na verdade foi Raleigh, a capital da Carolina do Norte, que veio até mim na forma da minha "melhor amiga dos EUA", a minha amiga Olga (tal e qual como o programa).
Ora a Olga, cujo verdadeiro nome é Olha, tal e qual e como o verbo, e que se pronuncia assim mesmo, tal e qual como o verbo, e que está nos EUA desde 1998, cedo descobriu que responder a verdade ao "what's your name" era uma tremenda maçada, por isso americanizou o nome e passou a ser Olga. Eu não gosto nem desgosto, mas acho que Olha, aliás Olhita, lhe assenta bem melhor. E dá-me um prazerzinho especial saber que sou das poucas por cá que o consegue pronunciar.
Vieram então até à muito cálida Phoenix a Olha e seu piqueno mais piqueno, Luca, também conhecido como Luca-Maluca, petit-nom que me é permitido dado o próximo grau de parentesco que nos une. Sou, afinal, auto-nomeada madrinha e muito tia deste sobrinho (e da Maya, a primogénita da Olha e que tem seis meses mais que a minha própria).
A Olha e eu conhecemo-nos em Agosto de 2002. A primeira vez que a vi não gostei dela. Foi no computer lab da NCSU. Ela entrou, eu sorri-lhe, e ela ignorou-me, continuando na sua vidinha e indo sentar-se num qualquer computador.* Isto, para mim, é motivo mais do suficiente para abandonar toda e qualquer ideia de conhecimento, quanto mais amizade.
Uns dias mais tarde, porém, estava eu de calças pretas e sapatos brancos, a Olha veio sentar-se ao meu lado e começou a conversar comigo. Disse-me tempos depois que me reconheceu europeia pelos sapatos e achou que eu devia valer a pena os dois dedos de conversa que me concedeu. A Olha é assim, não perde tempo desnecessariamente. É uma das qualidades que lhe aprecio, bem como à pontualidade que aprendi a imitar. Outra qualidade é o que eu chamo de qualidade zen. A Olha é zen, e dentro da sua filosofia de fazer o mínimo indispensável, pois que como eu é dada à preguiça, tem sempre uma perspectiva clara do que realmente vale a pena, jamais sweating the little stuff (não se chateia com miudezas).
A Olha foi e é a minha primeira família nos EUA, e entre tantas coisas que nos unem era em casa dela que ficava sempre que, já a morar em Blacksburg, na Virginia, ia a Raleigh falar com o Barry, o meu orientador. Muito antes disso lembro-me de estar a fazer a parte curricular do doutoramento e nós irmos, sempre e sem falhar, depois de cada sessão de testes/exames, ao mall, ao centro comercial de Raleigh que durante tempos infinitos desdenhosamente comparei aos portugueses até que me habituei (mal sabia eu que ao ir para Blacksburg ia ter saudades do Crabtree Mall, pois que a Banana Republic mais próxima ficava a umas meras duas horas e meia de carro, em Charlotte, NC).
Foi aliás a boleia da Olha que me levou, a cinco de Novembro de 2008, à NCSU e à minha defesa de dissertação. Foi a ela a quem disse, em primeira mão, que estava feito, done. Cerca de dois anos depois de lhe ter cozinhado uma omelete de ovos com queijo para celebrar a defesa dela, foi a vez dela me cozinhar o almoço (ainda que eu não me lembre do que comi, aliás só me lembro bem que foi nesse dia que o Obama foi decretado o quadragésimo quarto presidente dos EUA).
É ainda à Olha a quem ligo bem menos do que gostaria e de quem ouço/a quem digo, muitas vezes, "not now, not now, I'm washing/bathing/feeding/dressing/changing diaper/bla bla bla" qualquer coisa normalmente relacionada com a prole. Ela ouve-me, sempre pacientemente, e eu ouço-a a ela.
Algures em 2002, cada uma atrás da câmara, em Raleigh, NC:

Maria, em cima, e Olha, em baixo, Lake Wheeler, Novembro/Dezembro, 2002

*Pólo (que não perde o) Norte, afinal enganei-me, às vezes as minhas primeiras impressões não são as melhores!
A excepção que confirma a regra segundo a qual eu nunca me engano, portantos.

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