Os meus amigos, aqueles a quem eu nunca digo que não a nada, sabem que há um convite que não me podem fazer sob pena de se desmoronar esta minha máxima e com o desabamento lá ir um cascalhinho da nossa amizade.
Talvez pior do que nunca ter ido a Itália por causa dos passarinhos, eu recuso-me a ir... ao cinema. Não vou, pronto.
Até porque, deixai-me dizer-vos, acho que ir ao cinema quando se quer estar estar com um amigo é uma pura perda de tempo, pois não é possível conversar. Mesmo com um amor consigo pensar em sítios mais confortáveis para estar no marmelanço e bem mais discretos, pois que é sempre possível um flagra quando as luzes se acendem no escurinho do cinema, já o canta a Rita Lee. Portanto o meu pet peeve com o cinema começa logo aqui.
Mas essencialmente não vou ao cinema não porque não goste de cinema, mas porque não gosto das outras pessoas que vão ao cinema comigo. Não vou falar do crrrrc crrrrr das pipocas e nem do barulho das embalagens de rebuçados, caramelos, chocolates, o caneco, porque essa, apesar de ser a principal queixa que ouço, não é a minha.
O que me enfurece ao ponto de ter cruzado os braços e afirmado, resignada, que estão verdes, é a falta de educação das tais pessoas que comigo vão ao cinema, que conversam para o lado, para trás, e para a frente, e que atendem telemóveis e recebem mensagem atrás de mensagem a que, ruidosamente, respondem.
As últimas vezes que fui ao cinema estão-me gravadas a ferro e fogo na memória e foram trauma suficiente para que neles não bote mais meus pezinhos -- quando a mini-bolacha tiver idade para ir aos movies, depois logo revejo esta postura, afinal não há palavras que mais revisão exijam do que "sempre" e "nunca".
A antepenúltima vez que fui ao cinema foi em Vilamoura, em 2006, com mamãe, que jurou a pés juntos que ninguém conversaria durante o filme, afinal Vilamoura não é a Cova da Chanca (é assim que nos referimos à terra lá para as minhas bandas, e que quer dizer fim do mundo). Pois o filme não devia ter começado nem há vinte minutos quando a senhora sentada imediatamente à minha frente atendeu o telefone para dizer que estava no cinema, portanto não estava a fazer a nada, e sim, podia conversar à vontade. Os meus muitos "xiuuuuuuuuuuuu" só serviram para embaraçar a senhora minha mãe e me enervar, pois que a senhora só terminou a chamada quando achou por findo o tema. Depois, muito naturalmente, virou-se para o acompanhante e começou a relatar a conversa, pausando algumas vezes para dar assistência ao filme, que continuava na tela. O filme, outra desgraça, o Código Da Vinci.
As penúltima e última vezes que fui ao cinema foi com o agora amantíssimo esposo, então namorado.
A penúltima vez que fui ao cinema foi em Blacksburg, na Virginia, estávamos em 2007. O cinema era daqueles antigos, com muita madeira à vista, muitos dourados, e alcatifa vermelha, e dizia-se conservar ainda a porta especial por onde os negros podiam entrar para ver o filme durante a altura da segregação. Pois eu, sentadinha na ponta na penúltima fila, cheia de boa vontade para ver o No Country for Old Men, fiquei do outro lado do corredor de um casal que, assim que começou o filme, achou por bem comentá-lo. Eu durei exactamente treze minutos de filme. Levantei-me e disse ao rapaz que passaria a buscá-lo assim que o filme acabasse e fui passear, caminhar, o que só me fez bem à cabeça e ao rabo.
A última vez que fui ao cinema foi em Orlando, em 2008, estávamos lá para uma conferência. Depois dos papers apresentados, cada um o seu, decidimos ir ver o filme do Batman, o Dark Knight. Eu, como sempre reticente, mas a deixar o gajo por uma vez ditar o programa da noite. Ainda demorámos algum tempo a sentar, sempre à procura de um lugarzinho mais longe da malta de modo a evitar dissabores. Já as luzes estavam apagadas quando entrou um casal de jovens que se sentou na nossa fila, duas cadeiras afastados de nós. Cabrões, não se calaram nem um minuto. Antes estivessem aos beijos, aos apalpanços, desde que estivessem caladitos eu não me tinha chateado um chavelho. Assim, por muito que o filme fosse um espanto e a interpretação do Heath Ledger um assombro, o meu gozo do filme foi seriamente danificado. O namorado-bolacha ainda me perguntou se eu queria ir embora, mas eu aguentei estoicamente e só saímos quando o filme acabou. Devo ter demorado uma boa meia hora a acalmar-me. E jurei para nunca mais.
Agora vejo que há um cinema mesmo à minha moda, nem mais nem menos colorido do que preciso:
É uma pena que só haja (cinco) no Texas e (um) na Virginia, mas pelo menos tenho esperança que se expandam (mais informações aqui). Descobri isto pela Sem-se-ver.
*F.Y.I., ou For Your Information, significa "para que conste".
Fico maluca, ma-lu-ca com as pessoas que atendem telefones e falam no cinema. Por norma só vou a cinemas onde não se possa comer nem beber (tenho um pó às pipocas!), mas mesmo assim há gente que não é capaz de estar duas horitas sem verificar se recebeu alguma sms ou chamada. E acende-se a luz, e desconcentra-me. Gente a falar, levam logo com o shiu. O mate ainda tem menos paciência que eu.
ResponderEliminarMas gosto tanto de ir ao cinema :( adorava que por cá também se pusesse fora os faladores e atendedores de chamadas.
Eu quero um cinema desses, cá.
ResponderEliminarNinguém da minha família aguenta ir comigo ao cinema..... já nem o meu filho, coitado :)
Ora, ora, ora ... com o negócio das pipocas a ir de vento em popa, tão cedo os cinemas não te verão por lá. Azar o deles.
ResponderEliminarI.,
ResponderEliminarAinda há desses cinemas!?
Acho que o teu mate e eu nos íamos dar muito bem...
Nunca vi um shiu dar bom resultado (ou resultado que seja), normalmente só irrita quem está comigo.
Jonas,
Eu comecei a sentir-me mal pelas pessoas que iam comigo ao cinema. A minha mãe, digo-te, é uma santa (até porque me atura mais mil e quinhentas manias) e o marido-então-namorado é quase um anjo (neste aspecto). Daí que tenha resolvido, a bem da sanidade mental de quem comigo priva e da minha própria, deixar-me de coisas e assumir que não vou. Sou todavia do tipo que diz quereis ir ao cinema ide, ide, que eu fico em casa a cerzir umas meias ou a passarinhar no shopping, o que for.
Micas,
Sabes que mais de dois terços dos lucros dos cinemas vêm das receitas do bar e não da venda dos bilhetes? Ah pois!
Um sorriso às três!