Eu costumo queixar-me. Queixo-me do dia que amanheceu cinzento, queixo-me do dia que amanheceu de sol (e que às cinco da manhã irrompe quarto adentro -- idiotas dos americanos que não sabem o que são persianas). Ora entre as minhas várias queixas sempre esteve o meu sobrenome. Incomum. Incompreensível, especialmente ao telefone.
Há pouco reparei num sobrenome que nunca tinha visto. Diferente, fez-me parar um bocadinho para dele vos vir contar. Nome de uma Marta, variante de Martha, em Aramaico, e Martina, em Latim. Diz que significa senhoril, senhora da casa, ou dedicada a Marte, ainda que literalmente em hebreu seja cabra e em romano seja com dentes da frente grandes. Voltemo-os antes para o muito arménios forte e próprio de uma senhora, que sempre são mais distintos e menos animalescos. Esta Marta de que vos falo e cujo sobrenome provoca em vós já um arrepio de curiosidade chama-se Azedo, Marta Azedo.
Já pensaram nos traumas a que a Marta Azedo foi sujeita aquando da sua escolarização, "não dês o leite achocolatado à Marta, que azeda", "hoje estás doce ou estás azeda"? Ou sempre que o namorado de manhã lhe diz, quando ainda ramelenta e de cara amarrotada "hum... já vi que hoje acordaste azeda", como se gaja alguma acordasse sorridente, maquilhada, penteada, e de dentes lavados, como nos filmes. Mas o que me está a deixar de sorriso em riste é o oximoro sempre que o próprio, o gajo da Marta, a chama de "meu docinho".
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