quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ser emigrante, lado B

Há duas situações em que ser emigrante é uma chatice. Eu sei que há mais, não me interpretais mal, é só que agora não me ocorrem.
A primeira é o pesadelo que qualquer emigrante digno do título (e, reconheço, de quem quer que seja, mas para nós é mais difícil): alguém que parte. Alguém a quem dissemos que nos veríamos no Verão, aquando do regresso, como é da praxe, para as romarias. Alguém que abraçámos sem saber que seria a última vez. Alguém com quem rimos e bebemos uns copos e cuja galinha grelhada nas brasas exigida pela receita africana da tia foi preparada pelo próprio. Desta vez foi o meu tio, aquele que me chamou "mijona" toda a minha infância e nem por isso mudou de ideias depois de eu chegar aos trinta.
Também já disse adeus a uma tia e a um avô desta forma surreal. A minha mãe lá me foi dizendo que as pessoas não estavam bem, que as doenças estavam a seguir os seus cursos, mas não ver os meus queridos perderem o brilho faz com que sejamos sempre apanhados de (mais) surpresa.
Mas o que mais me transtorna no meio disto tudo é a incapacidade de abraçar os vivos, o que ficam. Consolar eu sei que ninguém consegue, mas ser capaz de mais do que dizer "sentes que te estou a abraçar?" seria bom.
Uma chatice, é o que é. E muito mais haveria a escrever sobre perdas, sobre adeus, mas não me apetece.
A segunda é uma verdadeira maçada: quando estamos menos bem. A Maria Rita pensou-o bem quando escreveu:


Eu não podia estar mais de acordo. Sobretudo quando, no dia em euzinha sou acometida de uma enxaqueca terrível com direito a recordar a velha máxima de que as coisas sabem sempre melhor aquando da descida, esta mesma máxima é explicada à minha pequenita. Com detalhes e repetidamente, não vá ela ficar só pelo primeiro parágrafo e saltar o meio e a conclusão.
Sou a primeira a concordar que a minha filha tinha direito a coisa melhor, a uma mãe que não tivesse de dizer ao pai "hold the kid while I go...". Assim como eu tinha direito ao meu cházinho com açúcar trazido num tabuleiro com uma colherzinha, porque nestas coisas é também sabido que o chá tem de ser sorvido aos golinhos pequeninos, e que só à colher. É que, apesar dos seus muitos predicados, o meu amantíssimo esposo é completamente inútil nestes assuntos. Talvez lhe falte a força de vontade ou a vontade de fazer força, não sei, mas o certo é que ontem, enquanto estava na cozinha a dar Pedialyte (uma solução que evita a desidatração) à criatura, e eu própria controlava a vontade de... enfim, o simpático estava, exausto de lhe ter dado banho e procedido à operação de limpeza dos lençóis e bonecos, displicentemente no sofá a ver o filme gravado no dia anterior, de vez em quando levantando os olhos da televisão para perguntar "so, how do you feel?".
Quero a minha mãe. E, já agora, se não for pedir muito, uma para a minha filha, enquanto eu me recomponho.

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