Como já aqui escrevi, a bem da minha sanidade mental e de uma correcta ortografia, a mudança do Brutus para o Muuu implicou a configuração de um teclado que escreve em americano para um teclado que escreve em português (o Muuu é do Iowa, lembram-se?).
Também expliquei que, como castigo por nem sei lá bem que pecadilho, me vejo obrigada a escrever de memória sem a mínima hipótese de fazer batota.
Escrever assim no escuro faz-me lembrar o meu nono ano do secundário, quando tive um professor de Práticas Administrativas que nos obrigou a memorizar o teclado AZERTY(uiop) - era, e assumo que ainda é, que é prática para uma correcta execução da administrativa aprender coisas de indubitável utilidade, como escrever à máquina comme il faut, entre tantas outras de utilidade mais manhosa como escrever cartas comerciais e preencher facturas e notas de encomenda.
Começámos por atacar a fila do meio, apenas as quatro letras para cada dedo (polegar não é dedo, é espaço!), primeiro as das esquerda, Q-S-D-F, depois as da direita, M-L-K-J. Passei horas nisto, Q-S-D-F, M-L-K-J, Q-S-D-F, M-L-K-J.
As máquinas de escrever eram do tempo em que tudo falou e tinham uns ganchos enormes que me obrigavam a levantar a mão toda para usar o dedo mindinho (que também já aqui avisei ser muito mais curtinho que os demais). E nós escrevíamos folhas atrás de folhas, Q-S-D-F, M-L-K-J, Q-S-D-F, M-L-K-J...
Depois das letras adicionais para os indicadores, G e H, vieram as filas de cima e de baixo, vieram os números, vieram os acentos. Semanas depois vieram os tapumes para o teclado. As nossas mãos sobre as teclas, uma folha por cima de tudo, a memória na ponta dos dedos.
Lembro-me muitas vezes desse professor, ainda que o nome tenha ido parar ao mesmo sítio onde foram parar o conhecimento de como preencher uma factura ou uma nota de encomenda. Chamava-me "Sargento" por eu ser delegada de turma e eu tremia como varas verdes na aula dele. Achava-o um fanfarrão e não raras vezes imbecil. Gostava de nos mostrar as meias, não sei porquê. Punha os pés em cima da secretária, recostava-se na cadeira, e exibia as meias... que terá sido feito dele, pergunto-me enquanto o ? vem do shift+-.
Neste momento sorrio a pensar no professor, no nono ano do secundário, e nas aulas em que aprendi a escrever à máquina. Nunca cronometrei, mas escrevo rápido e normalmente sem erros. Como também sei atender telefones muito bem, dizem os meus amigos que passei ao lado de uma brilhante carreira de assistente executiva, nome politicamente correcto que aqui se dá às secretárias.
Naquele tempo ... pois, naqueles idos tempos, também os meus dedos matraquearam as teclas do HCESAR e aquele tac tac tac ritmado, ao fim de algum tempo, começou a ser música p/ os n/ ouvidos. Fizeste o tempo andar para trás com este teu post e, por isso, beijinhos agradecidos.
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