segunda-feira, 7 de março de 2011

La vengeance do arbusto, I

Era uma vez um arbusto feioso e ressequido que vivia no backyard de uma casa em Phoenix, no desértico estado americano que é o Arizona. Os ramos, da cor da cinza da madeira que é queimada tomando o seu tempo, eram retorcidos e encarquilhados, e formavam o que parecia um ninho mal construído de sobras de outras árvores.
Ainda que parecesse no seu todo morto, teimavam na parte alguns sinais de vida. Eram estranhos estes sinais, e desafiavam as leis do universo que mandam que sejam calvos os cocurutos das cabeças dos machos e mais fartos em pêlo os lados. Brotavam no topo, nem se sabe bem de onde, braços verdes e viçosos cobertos de folhas e flores ainda encasuladas, promessas de existência ainda por acordar.
Divergiam os donos da casa quanto ao destino do arbusto.
O arbusto, segundo a dona da casa, tinha como destino o balde da reciclagem, recolhida com incansável regularidade às Sextas-feiras de manhã. O mesmo arbusto, segundo o dono da casa, prometia flores bonitas e não merecia tal sina.
Impávido, o arbusto assistia ao esgrimir de argumentos sobre a sua permanência. A favor havia a questão das flores, que se não mais por pura curiosidade, contribuía para que ficasse. Contra havia a questão da sua fealdade. Pior, havia o facto de a dona da casa não gostar dele, o que parecendo que não é argumento de muito peso na decisão do casal.
Adiada uma decisão derradeira sobre o arbusto, foi deliberado pela parelha dar-lhe um desbaste, limpá-lo dos galhos secos e deste modo torná-lo menos insultuoso à harmonia paisagística do lugar.
Chegou finalmente o momento da poda e, diligente, a dona da casa equipou-se com o material necessário à boa execução da tarefa. Saíram do armário as luvas verde-alface com que protegia os dedos dos picos traiçoeiros do arvoredo e saiu da prateleira a tesoura própria para os cortes. A tarde era domingueira e o dono da casa oferecia companhia enquanto tratava do sistema da rega.
Tudo estava pronto, inclusive o arbusto.

[Continua]

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