Segundo a RTP Memória, estávamos em 1985, e obrigada memória da RTP por seres tão de confiança, porque se formos a depender da minha estamos tramados, até porque eu tinha dez anos e era mais D'Artacão e os Três Moscãoteiros e Topo Gigio. Ora isto se dita não me enganar, o que é bem possível, e eu estivesse em plena fase Verão Azul, ti-ri-ri-ri-ri, ti-ri-ri-ri, ti-ri-ri-ri...
Estávamos em 1985, e Ramalho Eanes em breve deixaria de ser Presidente da República para dar lugar a Mário Soares. Aníbal Cavaco Silva, o nosso actual Presidente da República, era o Primeiro Ministro de então.
Os tempos eram de mudança. Em Janeiro de 1986, por exemplo, Portugal entrou na então Comunidade Económica Europeia (CEE) o que, pelo menos para mim, significou o fim das viagens a Espanha para ir comprar caramelos e chocolates de leite Nestlé, os tais que os meus pais escondiam no armário da sala e que eu todavia facilmente encontrava e que, com a gulodice característica da idade, devorava em meia dúzia de trincas. Portugal abriu os braços à Europa e aos fundos que esta nos ofereceu, as autoestradas multiplicaram-se quais coelhos, os fundos de muitos bolsos perderam-se de vista, e as vacas gordas substituíram as magras.
Mas voltemos à RTP, e mais concretamente ao programa Hermanias, onde Serafim Saudade, o grande artista de rádio, tevedisco, e cassete pirata fazia o seu debut televisivo.
O percurso de Serafim era um percurso igual ao de tantos emigrantes, gente que foi para fora ganhar uns contos de reis e que, volvidas muitas horas de muitos dias de não raras vezes muitos anos, regressou à terra que a viu partir, trazendo não uma mala de cartão mas uma mala de pele, nylon, metal, ou plástico, o importante, digo eu, é que viesse recheada e, já agora, tivesse rodinhas.
Serafim Saudade era mais um emigrante regressado à pátria onde, segundo o próprio, Teresa de Bragança faria dele mais português. Uma vez chegado, Serafim abrira um restaurante onde cantava a sua vitória sobre a desventura. A sua história de vida era negra como os seus celebérrimos caracóis pretos à la Restaurador Olex. Filho de pai alcoólico fugido de casa com um grão na asa e de mãe demente por causa da aguardente, Serafim havia sido criado por uma tia que lhe batia.
Todavia era de triunfo sobre a adversidade a história de Serafim! Depois de trabalhar como um cão nas obras, Serafim trazia ao palco a realização do sonho de uma vida. Com as suas camisas cor-de-rosa a fazer pandant com as duas partenaires, Serafim Saudade efectivamente era o que sonhara.
Batamos palmas, pois, e cantemos com o artista, se possível com acompanhamento coreográfico:
Serafim, Serafim, Saudade
Aqui estou e na verdade
Sei que sou o que sonhei
Serafim, Serafim, sou eu
Trago comigo porqu'é meu
Este nome que criei
Serafim, Serafim, aos molhos
A saudade dos meus olhos
Em mil lágrimas de prata
Serafim, Serafim, artista
De rádio, de tevedisco,
E de cassete pirata
Aqui estou e na verdade
Sei que sou o que sonhei
Serafim, Serafim, sou eu
Trago comigo porqu'é meu
Este nome que criei
Serafim, Serafim, aos molhos
A saudade dos meus olhos
Em mil lágrimas de prata
Serafim, Serafim, artista
De rádio, de tevedisco,
E de cassete pirata
Clap, clap, clap!
Observação para os mais observadores: A rubrica mudou de nome, chamando-se agora "Graçolas à Sexta".
Muito bom!
ResponderEliminarSaudades destes tempos...
Ps-manda sempre o mail às sextas a avisar a malta! Sabe bem..
Adorei.
ResponderEliminarE, foi então, depois de lida a "biografia" dramática de Serafim Saudade, que a sua música ficou a acompanhar-me, dando ao meu dia algum ritmo e até alguma alegria. Obrigada.
ResponderEliminarE amanha é sexta!!!!
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