sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Abraçar o medo

Hoje, há pouco, aliás, há umas escassas horas, vim pela primeira vez ao meu novo local de trabalho. Apanhei boleia com o marido, que estacionou o carro, descemos em conjunto as escadas do parque de estacionamento, e separámo-nos, cada um para seu destino, ele já ia para o edifício da escola, eu ainda ia tirar o cartão. Apontou-me a direcção do meu próximo destino, a mesma escola, assim que estivesse despachada, e lá fomos. Melhor ou pior a foto foi tirada e foi hora de abrir a porta do meu admirável mundo novo. Mas onde raio está a porta?

Cheia de mania não fiz o caminho inverso e fui dar ao lado oposto do edifício onde estava. Ainda dei algumas boas dezenas de passos até decidir que era melhor re-trace os meus passos. Privilégio de ser mulher, este de arrepiar caminho e perceber quando desistir. E lá saí novamente do edifício, desta feita pela porta certa.

À minha frente o pátio já familiar, as janelinhas com persianas azuis que eu sabia serem o meu destino ao fundo. Que alívio, sem saber bem onde estou já sei para onde vou.

Mas não, não sei. Sei que o gabinete que me espera é no quarto andar, e que se virar à direita a seguir aos elevadores encontrarei as secretárias do departamento (são três). Tenho encontro marcado com uma delas, andamos há meses a trocar mensagens sem nunca nos termos visto. Sei que é nova, na casa dos vinte, e loira. Venho a descobrir quando finalmente a conheço que é alta e linda. Combina com a personagem do email, portanto.

Ainda antes de descobrir o cheiro dos elevadores e que não têm espelho -- bolas, uma gaja tem aparecer apresentável e não há um mísero espelho à volta!? não se faz, pá!, quem disse que os académicos, pardon me, as académicas não têm de arranjar uma ou outra melena, ver se o decote não está demasiado convidativo (não está, pelo contrário, hoje impera a modéstia)... Mas dizia, ainda antes de entrar nos elevadores e mesmo na escola, parei um momento para marcar o momento. O momento do "antes", o momento do nunca mais não saberei o cheiro dos elevadores, ou a cor das paredes do meu gabinete, ou...

Gosto muito de conseguir identificar estes momentos de ignorância consciente tão temporária. São tão poucos... Este soube-me a aventura nova, a dia de sol. E estou feliz.

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