domingo, 13 de outubro de 2013

Ainda viva mas prestes a descabelar-me

Talvez seja da pílula nova que comecei a tomar há dois meses, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja da miúda que passou a semana de férias em casa, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja do calor que finalmente está a dar tréguas e me reteve tanto em casa, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja do ligeiro distúrbio obsessivo-compulsivo que me obriga a manter o chão limpo e sem migalhas, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja da privação do sono, o puto já dorme a noite toda e a miúda também, mas têm acordado à vez durante a noite e o cabrão do pica-pau que picou a janela às seis da manhã de Sexta-feira não ajudou, certamente, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja do trabalho que começa a entrar-me pelo mail e ao qual não consigo responder porque mal me consigo sentar para responder às mensagens que vão entrando, safam-me os iCoisos, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja porque vou fazer trinta e oito anos na Quinta-feira, mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja porque tenho um marido que espera que eu seja tudo nesta família enquanto o seu único trabalho, e que em verdade é importante e eu tiro-lhe o chapéu, é trazer aquilo com que se compram os melões para casa (hey, o dinheiro não compra a felicidade mas paga as contas!, e eu dou uma infeliz melhor com a barriga e a despensa cheias do que nem por isso, são escolhas), mas sinto-me a ficar louca. Talvez seja porque me faltam as minhas outras pessoas, todas as minhas outras pessoas, mas sinto-me a ficar louca.

Sinto-me a perder o juízo, sempre cansada. Quero dormir, quero passear, quero estar sozinha, quero que me deixem em paz mas que me perguntem o que tenho, como estou, se "está tudo bem". Está, obrigada, com a graça do Senhor, mas quero que perguntem na mesma para que eu depois possa perguntar "e contigo" e começar a fazer perguntas. Gosto muito de fazer perguntas. Gosto muito de ouvir as respostas. Nunca invasiva, sou comedida, mas gosto muito de ouvir as respostas. Gosto muito de ouvir as pessoas, mais até do que de ouvir a mim, pessoa que acho tem alguma graça e opiniões com as quais na sua esmagadora maioria concordo. Estou bem, obrigada, mas um bocado cansada. Ah, pois, e isso, sinto-me a ficar louca.

Hanging on by a thread, diria se me perguntassem por cá. Crazy ou insane não são bem a tradução adequada. Ainda não lá cheguei, ainda me prendem uns fios, mais do que o literal, talvez deste cabelo cada vez mais comprido. É curioso, sempre pensei que chegaria aos quase trinta e oito anos com ele bem mais curto (está pelo meio das costas). Será uma questão meramente estética, o cabelo é bonito por si só e fica-me bem assim ou será também uma forma de me recusar a envelhecer, a aceitar o que é próprio, adequado, lady-like. Bolas, já vou fazer trinta e oito anos. Só posso estar a ficar louca.

6 comentários:

  1. Os 38 são os novos 28, vai por mim, que ainda há pouco fiz os novos 32 :D
    E olha, quanto ao resto... abracinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ai é? Bom, se tu o dizes... é um facto que não te daria mais de trinta... que usas lindamente, adoro o estilo blasée da menina.
      O abracinho soube bem, ando precisadinha de mimo.
      Sabes de uma coisa, estou aborrecidíssima com um pormenor desta nossa amizade: estás muito longe e isso chateia-me. Bolas!
      Sorriso para si!

      Eliminar
  2. ó maria bê, por vezes escreves posts que podiam ter saído da minha boca, mas não tenho coragem de os publicar. estou a passar um dos momentos mais difíceis da minha vida, também estou a ficar louca, e ansiava por um pouco de tranquilidade e já agora dormir também era bom.... enfim. força e um abraço:-)
    E tenho 39, safa!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. (fosga-se, tinha escrito um comentário mas apagou-se no refresh -- bolas, bolas, bolas!!!!!)
      Triss,
      Não sei se é coragem se é inconsciência, uma gaja nunca sabe quem nos lê e como nos julga. Todavia criei o blog num momento algo parecido, quando me sentia a deprimir e lentamente a perder o tino, por isso fez sentido que respeitasse as raízes, ainda que o tom inicial fosse muito leve e jocoso.
      Se quiseres desabar, estás à vontade para me escrever, eu prometo responder e jamais fazer julgamentos de valor: euemaisbolachas@gmail.com. O que me ajudou a sair da fossa foi uma troca de mensagens que tive com uma amiga daqui. Sentir-me acompanhada e entendida fez toda a diferença, sabes. Aliás, sentir-me ouvida, sentir que alguém naquele momento me prestou atenção -- ai isto está lindo está...
      Tu tens um bebé pequeno -- quantos meses tem já? -- por isso é natural que não durmas. Pelo menos pela minha experiência, que não tenho um marido que me ajude nessas coisas. É um excelente pai, não me canso de dizer isso, mas ajudar à noite não é e nunca foi com ele. No início safou-me a minha mãe e agora, felizmente, o Max já vai dormindo (ainda que a Mia muitas vezes acorde aos berros, como acordou hoje às três da manhã -- oh, the joy...).
      Um abraço grande para ti e escreve se quiseres, sim?

      Eliminar
  3. Respostas
    1. SJ,
      Se soubesses o calor que senti no meu peito quando te li... fosga-se, isto está a dar-me mesmo para o sentimento... digo-te o mesmo que escrevi à miss Izzie, acho que moramos longe de mais. Um abraço sentido!
      E aquele sorriso bom.

      Eliminar