sábado, 7 de julho de 2012

"Azeiteiro"! "Azeiteiro é você!"


Quando andava na licenciatura, tive uma disciplina que me fascinou como nenhuma outra: Comércio Internacional. Diz a minha amiga N., colega de Economia da Saúde, que é fácil a paixão por qualquer uma destas áreas. Talvez isto seja válido para todas as áreas em geral, afinal eu deliro com os temas de Economia Ambiental do Mr. Bolacha e acho interessantíssimos os estudos que o M. publica sobre o mercado de trabalho (C., também adoraria os teus artigos se conseguisse perceber pelo menos 1% do que escreves).

Quanto ao comércio propriamente dito, a minha paixão começou com o conceito de que Paul Samuelson, prémio Nobel da Econcomia em 1969, se lembrou como resposta ao desafio do matemático russo Stanislaw Ulam de lhe apresentar uma "proposition in all of the social sciences which is both true and non-trivial." Conta Samuelson que só anos mais tarde se lembrou da resposta correcta: o conceito de vantagem comparativa, dizendo "That it is logically true need not be argued before a mathematician; that is is not trivial is attested by the thousands of important and intelligent men who have never been able to grasp the doctrine for themselves or to believe it after it was explained to them."

E foi assim que todo um mundo se abriu diante de mim. A especialização dos indivíduos naquilo que fazem melhor e troca com os outros indivíduos que também se especializam naquilo que fazem melhor leva a uma melhor (mais eficiente) afectação de recursos e por conseguinte a ganhos para todos (ainda que não necessariamente igualmente distribuídos, coisa que comicha a muita gente). Lembro-me, a este propósito, da argumentação hilariante que o LAC me apresentou sobre a cargo de quem deveriam ficar as tarefas domésticas uma vez que as mulheres estavam melhor treinadas/adaptadas/whatever, eram melhores na sua execução. "Vai-te lixar" foi a única resposta possível (ou uma qualquer sua variante, quiçá mais peluda, não fora eu gaja do Norte com tendência para a boca suja).

Mais tarde e mais adiante na disciplina, aprendi que apesar dos argumentos liberais, países há que escolhem desvirtuar os fluxos de comércio através de barreiras. Há-as para todos os gostos e feitios, das mais às menos visíveis. Entre estas últimas, genericamente classificadas como "Barreiras Não Tarifárias", estão mecanismos que afectam o fluxo de comércio mas como se fosse quase "sem querer", uma vez que o objectivo da barreira é outro, o de proteger a saúde do consumidor, o combate à fraude, etc, sucedem-se as justificações.

Li há pouco, no dinheirovivo.pt, que o Brasil e Portugal assinaram um memorando de entendimento que elimina a exigência de testes de controlo do azeite português à entrada do Brasil. Estes controlos, que já são efectuados em Portugal antes da exportação, e que visavam garantir a qualidade do azeite, serviriam como entrave à entrada do produto, aumentando a burocracia e demorando as exportações. Esta seria, do ponto de vista dos exportadores, uma "agenda escondida com o rabo de fora: mais uma prova do proteccionismo industrial brasileiro". Naturalmente, se o preço do azeite português aumentasse, os consumidores brasileiros iriam preteri-lo em favor de outras marcas, quiçá nacionais. You gotta love trade, é sempre a conclusão a que chego.

2 comentários:

  1. Interessante. E refrescante ver um artigo assim no circuito da blogosfera...

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  2. Muito obrigada, Sissi! Fico feliz que tenhas gostado!
    Um sorriso azeiteiro (na minha terra, os azeiteiros são os parolos)!

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