quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estou a perder o juízo

Lentamente, pepita a pepita.
Imagino que perder o juízo seja tarefa para levar o seu tempo, como um copo (flûte?) cheio com um furinho pequenino no fundo que se esvai gota a gota. Imagino que não seja coisa repentina, como perder umas chaves, uns óculos de sol, um livro, ou um casaco, que são meros instantes de distracção e depois puft, foi-se.
O meu juízo está a ir embora devagarinho, sei-o. E só não garanto que sinto as teias de aranha a aparecerem nos espaços onde antes habitavam células que eu imagino gordas e saltitonas como os glutões do OMO porque, enfim, ainda me resta algum. Juízo, quero dizer.
Não sei bem a que se deve esta diminuir da capacidade, talvez a causa seja única, talvez não.
Começaria por culpar a gravidez e o pós-parto. Os americanos têm uma expressão muito adequada, "mommy brains", que explica, baseados no cansaço e na privação do sono, o desmemoriamento das mamãs (e as crises existenciais, digo eu). Estudos científicos, porém, parecem indicar precisamente o contrário, que o cérebro das mamãs cresce:
E eu que pensava estar no bom caminho... humph!
A seguir na lista de possíveis culpados vem esta vida de quase pária. Estou longe de tudo e de todos, e os meus contactos sociais são poucos, resumindo-se à minha filha, ao meu marido, à senhora do ginásio que verifica o cartão e me dá as toalhas, as baby-sitters do dito ginásio (sobre isto hei-de escrever um texto), os caixas do supermercado, e as professoras da escolinha da cria. Mas Maria, perguntais já V. Exas., "tu pareces ser tão boa pessoa, não tens amigos?!" -- notai que até ali pus o ponto de exclamação para denotar bem a vossa surpresa. Tenho, tenho, mas estão todos muito ocupados, e só nos vemos, com um bocado de sorte, uma vez por mês. Fora as conversas via Skype, as trocas de comentários e chats no Facebook, os mails, e este mesmo cantito, a minha vida social resume-se a isto. Se eu ao menos fosse um nadinha esquizofrénica talvez me sentisse mais acompanhada, e poderia ter discussões bem mais inteligentes comigo própria, quiçá uma das minhas outras personalidades pudesse ser uma rocket scientist, outra uma especialista em literatura, e a outra em música, garanto que assim seria bem mais divertido. Acho que me faltou aqui uma fashionista hard core para me dar umas sugestões de vestimentas glamorosas, mas que venha, então.
A terceira causa, ligada às duas anteriores, é a licença de vencimento, a ausência do ritmo de trabalho, de que eu gosto tanto e tanta falta me faz. Deixem-me trabalhar!!!! como dizia o outro. Trabalho é coisa que não me falta, desde aulas de disciplinas novas que tenho para preparar e os papers da tese quase quase quase prontos para mandar para os journals (sorry pelo jargão académico, achei que daria um ar distinto à coisa).
Se a causa é apenas uma ou se são várias misturadas, não sei. Só sei que há dias me esqueci de uma reunião que tinha sido marcada e cuja ocorrência foi sobejamente lembrada durante a manhã e depois, às duas da tarde, foi-se, e hoje mamãe mandou-me uma mensagem a dizer que lhe marquei o voo de regresso a Portugal no dia errado, exactamente uma semana depois do meu.
Juízo, bye-bye, gostei muito deste bocadinho.

2 comentários:

  1. Mas ainda não os submeteste? Tou f... contigo.

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  2. Luís,
    O outro gajo não me responde aos mails de maneira nenhuma. Teremos desenvolvimentos lá para o fim-de-semana, vou pedir ao meu gajo que mos leia e comente e logo os submeterei by myself. Logo te mandarei notícias.
    Um sorriso aborrecido com esta treta toda.

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