quarta-feira, 6 de julho de 2011

Aventuras de mae -- ida ao hospital com cria

Sempre que me esqueço, o universo trata de me lembrar que sou uma mae igualita 'as outras todas. Calma quando tem de ser, fera por necessidade, e preocupada porque vem com o cargo.
Terça 'a noite, San Rafael, criatura piquena com 104.9F (40.5C) de temperatura. E no's longe de tudo, e quem diz tudo diz Phoenix, que e' onde temos a cli'nica pedia'trica da cachopa, sem saber o que fazer.
Teimando em ser pais modernos que nao levam a cria ao me'dico por causa de um soluço, acha'mos por bem quebrar o marasmo e ligar ao pediatra, ainda que por estes lados "ligar ao pediatra" nao queira dizer o mesmo que ligar ao pediatra em Portugal, mesmo que a traduçao literal, "call the kid's pediatrician", possa ser usada, algo abusivamente. Entao por ca' liga-se mesmo e' 'a enfermeira de serviço de atendimento permanente, ou after hours, que acalma os pais mais ansiosos e lhes diz o que devem fazer, entre banhos te'pidos, medicamentos para baixar a febre, ou mostrar a pequena ao doutor (ou a um doutor).
Liguei entao para a cli'nica pedia'trica da rapariga. Deixo um nu'mero de contacto, a data de nascimento da rapariga, e fico 'a espera que a enfermeira me ligue de volta. Tem de me ligar para casa dos sogros, o (cabrao do) iPhone nao funciona nem em cima da torradeira. Entre tantas outras coisas pergunta-me onde estou. Respondo-lhe que estou na California. Bolas, as licenças de enfermagem sao estatais, e uma enfermeira nao pode "enfermar" noutro estado sob ameaça de perder a license. Bolas, bolas, bolas. Tem de pedir ao me'dico de serviço que me telefone. Ha' coincidencias felizes e e' a minha me'dica que esta' on call (a minha, quer-se-dizer a da minha cria, mas gosto da rapariga, chama-se Khristina, sim, com "K" e com "h", e e' muito cool, este Verao vai escalar o Machu Pichu e tudo). Liga-me com aquela vozinha meiga (tenho uma sorte do caneco com as pediatras da minha filha, a portuguesa, Sonia, fala com um sotaque carioca lindo e meigo que so' ouvindo, qualquer coisa soa melhor naquele sotaque cantado que tem, especialmente quando me diz que a minha filha e' linda "meismo") que me acalma imediatamente. Lista meia du'zia de coisas possi'veis e la' se vai a calma com a frescura da testa da cria. E' importante leva'-la para ser observada, conclui.
E começa a odisseia.
Ligo ao Mike, peço para falar com a Jenn, que moram a dez minutos daqui, e peço-lhes o contacto do pediatra deles. Dizem-me para levar a miss'a after hours clinic onde levam os miu'udos. A minha sogra liga. Depois de minutos imensos durante os quais lhes da' a data de nascimento, nu'mero do seguro, bla bla bla, finalmente da' a morada. Somos de longe. A mulher do outro lado da linha diz-lhe "sorry, we're closed". Assim! Fiquei doida, so' vi vermelho 'a minha frente. "How dare the bitch deny treatment to my daughter?!" digo ao meu sogro, os meus olhos esbugalhados, abertos ate' ca' tra's. Explica-me que eles tem direito a "deny treatment". Mas eu posso pagar!!! digo-lhe irritada. As coisas sao assim mesmo, leva-as 'as urgencias, eu pago, diz-me. Nao quero, recuso-me, acho um abuso.
Meia hora depois rendo-me 'as evidencias de que nao ha' alternativas, tem mesmo de ser o hospital, o Marin General. Irrita-me porque sei, 'a partida, que sera' vista por um qualquer me'dico de ER e nao um pediatra. E', aqui os miu'dos sao vistos por medicos de grau'dos, e so' em casos extremos sao chamados os specialists. Idiotas. Ate' no Hospital de Sao Sebastiao, em Santa Maria da Feira, os pequeninos sao melhor tratados, ha' toda uma ala so' para eles, com triagem separada e tudo. E depois os me'dicos da poda, que sabem bem como tratar e manipular os pequeninos, tambem sabem tratar e manipular as maes dos ditos, que tambem precisam de colinho quando o seu bebe esta' com doi-doi.
Vamos ao hospital. Esperamos. Triagem. Esperamos. Somo chamados e entramos, os quatro, mini-bolacha, pai-bolacha, sogra-bolacha, e mae-bolacha para o cubi'culo. E esperamos, esperamos, e desesperamos. Temos a cortina aberta e assistimos 'as conversas do pessoal, ao me'dico jeitoso que esta' a cantar a cantiga do bandido a duas enfermeiras bonitas... ena, e' o jeitoso quem vem ver a pequena. Chama-se Martin, tem o nome bordado nos scrubs pretos justos, tailored para aquele corpo musculado. Tem cara de puto e eu digo-lhe "you look too young to be a doctor", acrescentando "I bet you get this a lot". Nao sei se e' porque e' bonito, novo, ou musculado, mas nao me inspira confiança, sentimento que passa quando examina a criatura e o faz com delicadeza. Nao tem la' muito jeito para a examinar, afinal a criatura parece uma enguia e contorce-se toda, mal abre a boca para mostrar a goela e protege a intimidade e o cerume dos seus ouvidos como esperamos proteja a virtude daqui a alguns anos que tambe'm esperamos serem muitos.
A rapariga esta' fina. Com febre mas gaiteira, e espalha simpatia pelas enfermeiras que lhe acenam (desde que nao se cheguem perto e especialmente com aparelho'metros esquisitos). Nada foi encontrado e por conseguinte, com um diagn'ostico "deve ser viral, levem-na amanha 'a after hours pediatric clinic se for caso disso", mandaram-nos embora.
Ora all things considered houve um aspecto de que gostei -- e aqui vao perdoar-me o deslumbramento se for caso disso: por ca' nao se prescrevem medicamentos as cegas. Eu explico. A rapariga foi examinada (ouvidos, garganta, pulmoes, barriguita), e inclive foi feita uma recolha de urina que foi vista pelas enfermeiras e posteriormente enviada para o laborato'orio onde foi mais uma vez analisada. Eu, na minha santa ignorancia, fiquei satisfeita por nao vir para casa com uma receita de antibio'otico de largo espectro, como tenho algum receio (infundado, amigos, infundado!) aconteceria se estivesse em Portugal. Ha' bichos e bichos, e se as bactérias tem nos bio'ticos os seus arqui-inimigos, os vi'rus sao meninos para os levarem numa tour para ver as vistas e ainda uma noitada de copos e gajas.
Hoje de manha a febre continuou, 103.8F (39.8C), de modo que a leva'mos ao "urgent care". Uma me'dica alemoa, bonita, o'culos Prada (as coisas que eu observo!). Eficiente, competente. Maneiras de cama pouco apropriadas para uma me'dica de continuidade mas adequadas 'a nossa one night stand. Disse-me o mesmo que o me'dico jeitoso mas ainda lhe fez uma colheita na garganta, nao fosse a mini-miss ter strep throat (que eu nao sei o que e' e nao me apetece googlar)-- bicho, amigos, para ver se tem bicho. Nao tinha.
Estamos em casa, a febre mais baixa graças aos suposito'rios que ainda por cima sao difi'ceis de encontrar, por ca' e' tudo 'a base de xaropes de sabores va'rios, cada um mais asqueroso que o outro. A mini-miss esta' na cama a chamar por mim, nao quer dormir. Eu quero que durma, acho que a fervura em banho Maria da' cabo da bicharada que a aquece.
A minha noite de ontem foi assim e a minha manha de hoje tambem. Queria escrever sobre o hotel e o casamento e a tempestade de po' que ontem se abateu sobre Phoenix, mas so' penso na minha bolachinha. Agora tao torradinha. Melhor com um copinho de leite.

Comenta'rio dos acentos-ou-falta-deles: se soubesseis o que me custa escrever sem acentos...

4 comentários:

  1. Mãe sofre!...
    Os pequeninos têm destas coisas, que fazem parte do pacote. Os seus corpinhos pequeninos reagem fortemente a "coisas" que não lembram a ninguém e a que tão vagamente apelidamos de viroses.
    Ela não quer dormir? No lugar dela eu também não quereria, com medo de acordar e não te encontrar por perto. Tem paciência e usa doses extras de mimo e logo tudo passará. As melhoras da mini miss Bê.

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  2. Pobrezinhas... Tudo viral, mas o sofrimento de ver a princesa com dodói ninguém o tira. Mas tudo passa rapidamente na infância, palavra de pediatra. Boas férias!

    (um) beijo de mulata

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  3. Micas,
    So' tu para vires cravar a faca ainda mais funda no meu coraçao ja' angustiado e roda'-la mais um bocadinho com requintes de crueldade. Isso e' la' coisa que se diga?! Humph!
    Tivemos o cuidado de ir embora enquanto estava acordada, de lhe dizermos chau, por isso nao creio que em momento algum tenha tido medo de lhe desaparecermos enquanto dormia. Portou-se muito bem, disse-me a sogra.

    BdM,
    Querida Bdm, gostei do plural, afinal se a pequenita esta' menos bem, a grande tambe'm nao anda fina. Acredito em si, juro que acredito nessas palavras de quem ve disto amiu'de, palavra de pediatra e' lei ca' para os meus lados.

    Entretanto a mini-miss ja' esta' bem melhor, a febre quase se foi, e alegria ja' voltou. So' o mimo parece permanecer, mas eu ai' confesso que ate' gosto (ainda que a danada prefira o paizinho, papa'!!!!!!).
    Um sorriso a ambas!

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  4. Maria Bê, um beijo muito grande. Como te entendo...Sabes, uma vez o Francis teve febre alta (intermitente) quando o Icoare boy foi de viagem prolongada. Não sabia o que fazer. Tanto estava bem como, de repente, ficava febril. Mas tudo vai passando, o que é ótimo.
    Um beijo para ambas...devem estar a precisar de descansar um pouco antes da viagem até ao "reino" das pataniscas.

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