terça-feira, 28 de junho de 2011

Sempre a mesma coisa, Maria e as viagens

Naqueles muitos momentos em que não tenho nada de verdadeiramente importante para fazer, e me permito portanto pensar na vida que a bezerra potencialmente teria não fora eu uma imbecil que só pensa na sua morte, faço uma lista mental das músicas que deviam formar a banda sonora da minha vida.
Uma música seria sem dúvida a daquele visionário que foi o António Variações, "Estou Além" -- e agora, enquanto penso no post que a Rita Maria escreveu há dias, sobre a sua vontade de regressar a casa pois que a vida lhe parece mais simples quando rodeada de amor, permito-me generalizar e achar que é maldição do emigrante o só estar bem onde não está, o só estar bem onde não vai.
De malas feitas, roupa interior devidamente acondicionada no saquinho de cetim cor-de-rosa, cremes e loções e poções mágicas anti-envelhecimento/borbulhas/manchas/you name it, I have it já postos naqueles frasquinhos que vou coleccionando das amostras e que são muito úteis para quando se viaja, por sua vez bem guardados dentro daqueles saquinhos com fecho de levar ao congelador (ou de passar no controle de segurança), sandálias pretas, sandálias de cerimónia, havaianas, pochette, vestidos (vou a um casamento), écharpes (três, que gaja que é gaja não faz a coisa por menos), bla bla bla. De malas feitas e tudo preparado não me apetece ir, apetece-me mesmo é ficar em casa.
Mesmo com o calor que se faz sentir lá fora (agora estão 37ºC, amanhã esperam-se 46ºC) não me apetece ir para lado nenhum. Nem San Rafael, nem San Francisco, nem o caraças. Apetece-me ficar em casa com os meus livros, com o ginásio da pequena, com a ida à biblioteca, com o mergulho de piscina ao fim da tarde. Apetecem-me já o meu sofá, a minha almofada, o meu fogão, a minha casa-de-banho. Apetecem-me os bolos de iogurte que não farei ou mesmo as bolachas de aveia cuja receita me foi prometida mas nada -- hum, miss, vamos lá, receitinha cá para o je! Apetecem-me as águas com gás de sabores que temos sempre bem fresquinhas, os cereais logo pela manhã em frente à televisão sem ninguém conversar comigo.
A tanta antecipação sobre esta visita esboroa-se assim com este meu saudosismo/comodismo/sedentarismo e mais algumas coisas decerto terminadas em "ismo" que de momento não me ocorrem. Não me apetece ir, pronto. Mas irei e por lá andarei toda lampeira.
Resta-me pois, uma vez que este post é feito de música, despedir-me com a flor que entretanto amanhã levarei no cabelo. Afinal, quando se vai a San Francisco, é assim.

1 comentário:

  1. Pronto, pronto Maria Bê. Essa vontade de não saír dos teus "ismos" já passa.
    Uma das muitas coisas boas das viagens é o Voltar, mas, para isso acontecer, é necessário fazer malas e partir.
    Tenham boa viagem.

    ResponderEliminar