quinta-feira, 23 de junho de 2011

Há tradições que ainda são o que eram

Dia vinte e três de Junho, escolham um qualquer ano dos últimos... sei lá, vinte, e garanto-vos que em Santiago de Riba-Ul, lugar recôndito de Oliveira de Azeméis e onde se escondem localidades finíssimas como Carcavelos (aha!), Alto da Fábrica, Giesteira, e Ponte de Cavaleiros, só para enumerar algumas, algures entre o Outeiro e a Costa, e salvo raras excepções que incluem chuvas torrenciais ou cirurgias, houve festa.
Todos os anos o meu avô dá uma festa na noite de São João, para a qual convida a família, os amigos, os amigos da família, e a família dos amigos. Todos os anos ele afina a agulha do gira-discos, testa as colunas, e lá vêm o Quim (Barreiros) e mais outros tantos cujos nomes me são estranhos mas as melodias até nem por isso.
Nas brasas são assadas febras, sardinhas, frangos, o que quer que apareça temperado e salgado para a ocasião. Pelas muitas mesas que se montam espalham-se panados, rissóis, croquetes, bolinhos de bacalhau, rojões, pataniscas, eu sei lá. Por todo o lado há pão-de-Ul (se não sabeis o que é, é uma pena, garanto-vos, e até este meu frigorífico Phoenixiano lhe conhece o cheiro, trazido há uns meses largos por mamãe aquando da sua visita). Batatas fritas em taças várias, pratos de papel, copos de plástico, mãos gordurosas que se vão lavar à fonte pequenita que o meu avô mandou construir e que é guardada por um santinho da sua preferência (quero dizer que é o próprio João, mas não tenho a certeza).
À agua da fonte juntam-se outros tantos bebes. Para os nostálgicos há sempre uma Sumol de qualquer sabor, para os mais americanos há 7-Up, Pepsi-, ou Coca-cola, e para os valentes há a sangria do meu avô, sangria à Don Álvaro (termo de sua amantíssima esposa Emília e senhora minha avó, mamãe de minha própria). Vem até nós num garrafão de plástico, daqueles grandes de agricultor (lides que esperamos não conheça todavia nos recusamos a questionar, isto com o meu avô nunca se sabe). A sangria tem vinho mau e fruta boa, tem mel, tem... uma colher da sopa para servir e escorrega que é uma maravilha. 
Mais para o fim da noite há o acender da mítica fogueira, que não só se salta como se avança, num qualquer acto de coragem cujo significado mais profundo me escapa. Talvez se avance apenas o medo de chamuscar o rabo nas chamas por vezes demasiado altas (em que pensaria mamãe!?!?!), talvez se avancem outros medos, não sei (o meu de pássaros nunca se foi!), mas o saltar da fogueira é sempre recebido com aplausos e abraços como se se tivesse corrido uma maratona e a fitinha da meta tivesse mesmo ali sido avançada.
Hoje, enquanto eu limpava o chão e os balcões e nem sei o que mais, lá por casa, pela outra casa, houve acepipes vários, sangria, e uma fogueira. Por cá, por esta casa, haverá bifes de vaca panados, Moscato, e um sol abrasador. Cada um festeja como pode. Mas para o ano lá estou!

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