quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Momentos perfeitos

São Francisco, 3 de Janeiro de 2009
Para ler ao som de:

(Maria Callas, Norma, Bellini)

Hoje de manhã apeteceu-me actualizar a lista dos blogs de que gosto muito e que visito com alguma, quiçá demasiada, regularidade. É essa lista aí ao lado direito, intitulada "Blogs que eu saboreio". Ando há imenso (qual imenso, qual quê, se o meu blog mal tem duas semanas de existência!) para escrever o porquê desta lista, mas não será hoje ou pelo menos neste post.
Munida do IPhone e de alguma paciência, propus-me então à tarefa. IPhone porquê? Porque eu sou uma bloguista (atenção não blogueira!) de cama. Já há dias aqui revelei que gosto de ler na cama. Ele é livros, revistas, catálogos do Ikea (da Ikea?), o que for, mas desde que tenho o IPhone, entre as notícias de última hora e o tempo que fará no dia seguinte, eu gosto mesmo é de ler os posts mais recentes dos bloggers da minha preferência (desta feita, e para que fique oficial, aqui fica a promessa de um dia descrever, melhor ou pior, os critérios que me levam a saborear um blog, porque os critérios são muitos, quase tantos como os blogs).
Um dos blogs que gosto (ia escrever adoro, ou como agora anda tão popular em Portugal, "amo") ler é A Gota de Ran Tan Plan da Teresa. A autora assina "Teresa" e por isso não estou a invadir a privacidade dela ao escarrapachar-lhe aqui o nome. A Teresa escreve bem, escreve muito bem, escreve mesmo muito bem, mas para além disso é, como a etiquetou um conhecido, "A Mulher da Ópera" (assim com maiúsculas e tudo, porque quer-me parecer que a Teresa é grande em tudo o que faz). E aqui vou desculpar-me por fazer mais um aparte, desta feita sobre uma ideia que também tenho vindo a cozinhar, lentamente, na esperança de que um dia vire post: eu tendo a gostar dos bloggers que leio. É, desenvolvo uma relação, unilateral, é certo, que as minhas patologias psicológicas ainda não me deram para achar que os bloggers que leio escrevem (só) para mim, ou que me conhecem. Mas começo a gostar deles, e portanto já comecei a gostar da Teresa.
Então a Teresa, descobri hoje, mesmo há pouco, tem música no blog! Como a lia só via IPhone, não sabia do fundo musical, o que é uma valente perda da minha parte. E, não sei se é a música de hoje, da semana, do mês ou coisa que o valha, ao abrir o blog da Teresa começa a ouvir-se Regnava nel Silenzio pela voz da Dame Joan Sutherland (gosto que tenha escrito assim, Dame). E que lindo, pá.
E de repente voltei a São Francisco, a Janeiro de 2009, quando lá passei uns dias à conta de uma conferência da minha cara-metade. Ora então cara-metade na conferência, moi-même a explorar a cidade. Nesse dia caminhei que me consolei - a escolha do verbo não foi de modo algum acidental, eu adoro caminhar e por cá caminho pouco, mas isso, tal como os blogs que saboreio, é tema para post em data incerta (aqui fica mais uma promessa). Nesse dia caminhei, caminhei, caminhei... um saltinho pequenino (todavia gracioso) da Market St. & 4th até Chinatown e depois uns quantos maiores até à Lombard Street, aquela aos zigue-zagues, almoço algures pelos Piers a olhar para a baía, depois regresso ao hotel. Já em fim de dia, tão cansada quanto consolada, também de ver as vistas, obriguei-me a passar pela minha rua preferida de São Francisco, a Maiden Lane - até do nome gosto, Rua da Donzela. No meio do bulício que é o centro de São Francisco, mesmo ali em plena Union Square mais ou menos um bairro, há uma ruela fechada ao trânsito que é um paraíso no meio do caos. Nessa rua, não sei se coincidentalmente, ficam as lojas da Hermès, Chanel, e Max Mara, só para listar algumas, apesar de que a rua é pequenina e não há espaço para muitas. Mas divago... Ao chegar à Maiden Lane ouvi, ainda antes de ver, música. Não uma música qualquer, ópera. Ignorante, não sei que compositor ouvia, de que aria se tratava - cá entre nós, se fosse a Teresa, eu sei, tenho a certezinha, a Teresa saberia. Todavia eu não. Mas sei que era bonito. Maiden Lane tinha sido invadida por uma soprano imensa, como consta da fotografia que postei acima. Era imensa na figura e no cantar. Fiquei ali um minuto que podem ter sido cinco ou dez. O mundo reduzido àquela rua, àquela voz. Perdi-me no tempo e no espaço, e guardei essa memória na caixinha dos momentos perfeitos.
Teresa, este post foi só para si, por hoje a ter aberto (espero não a desgostar com a minha escolha musical). Obrigada.

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